Hoje, 12h, adentro um restaurante em Dois Córregos. Na parte central uma pessoa chama a atenção. Negro, carapinha bem branca, igual a barba, um ar conhecido. Não deu outra, era VADO, o famoso ator mambembe, que apresenta por esse mundão afora a poesia de Castro Alves, "O Navio Negreiro". Fiquei meio assim de me aproximar, mas o fiz, pois da última vez que assisti a peça/monólogo, deve fazer bem de uns 15 a 20 anos. Vado é a simpatia em pessoa e almoçamos juntos. Reside em Campinas, seu porto seguro e de lá sai toda semana para um lugar diferente. Faz tudo sózinho, ele numa velha Caravan, onde armazena o necessário para as apresentações. Continua o mesmo dantes, um artista solo, vendendo o seu peixe de uma maneira das mais corajosas e ousadas. Sabe das dificuldades de vender o espetáculo nas cidades, a burocracia, morosidade, tanto que se oferece pela bilheteria. Quer o pouso e a alimentação, no restante se vira ao seu modo. Sabe como fazer e com a ajuda da Prefeitura local visita as escolas e oferece em cada uma delas o seu evento. No mínimo lota dois espetáculos só com estudantes e faz outro para o público em geral. Tem um produto bom na mão e oferece sua arte, com 35 anos de estrada, sem riscos financeiros, a não ser para ele próprio. Convence todos e os locais de apresentação estão sempre cheios. Vê-lo fazendo isso aos 61 anos, sendo o espetáculo em cartaz a mais tempo na América Latina e o segundo no mundo, sendo superado só por um chinês (tão ousado como ele). Está a caminho do Guiness Book. Me espanta sua agilidade e lhe pergunto sobre auxiliares, o som, iluminação, essas coisas. Ri e me diz: "Viajei por tudo quanto é lado é uma vez na América Central, encontro com um mágico italiano, na estrada como eu, que traz consigo um aparato, onde ele faz tudo sózinho, apertando botões e acionando luzes, fumaça e som. Ele me emprestou para um evento por lá, tirei fotos e fiz um com a adaptação para o que preciso. Faço tudo. Com a bengala, aciono botões e movimento tudo. O público, percebendo isso, aplaude ainda mais". É único no que faz. Digo de Bauru e ele lembra em detalhes das apresentações no Prevê, no Teatro Edson Celulari, antigo Cine Rex e de entrevista na TV (Nádia, ele lembra até do seu nome). Acha uma foto num álbum e me diz: "Essa eu tirei em Bauru, no teatro do Prevê". De Cuba, uma recordação em especial: "De todas as apresentações foi uma das que me mais me preparei. Sabia o público que iria encontrar, um dos mais cultos da América, gente inteligente, com conhecimento de causa, que frequenta teatro. Percorri a ilha e já faço planos de voltar. Aprimoro meu espanhol". Do Brasil, cada cidade uma aventura diferente, uma expectativa e gente a lhe reconhecer. Ainda no restaurante, aproxima-se uma senhora, responsável pelo projeto de poesia espalhado pela cidade de Dois Córregos. Faz oferta para Vado voltar à cidade no Festival de Poesia, no Inverno. A cidade respira poesia. Até no restaurante estão espalhadas e no restante da cidadem muita poesia pelos muros. De lá, vamos ao cinema/teatro da cidade, onde estará se apresentando na quinta e sexta. Antes de ir mato outra curiosidade, sobre o seu record diário de apresentações: "Já cheguei a fazer quatro num dia. Hoje não faço mais, não passo de cinco na semana e isso para não cair a qualidade do espetáculo. O texto e a encenação da poesia de Castro Alves é desgastante e envolvente. Um poeta que previu um dia um negro no poder, um libertário". Vado continua na estrada, aos 61 anos, 35 anos com a mesma peça, com a cara e a coragem. Diante de tantos espetáculos dantescos, vê-lo exercendo esse papel de ator andarilho/mambembe é para se emocionar. É único e uma incrível figura humana.
quarta-feira, 27 de maio de 2009
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2 comentários:
Puxa vida, o Vado eu assisti quando estava no ginásio. Ele ainda continua apresentando a mesma peça? E está do mesmo jeito. Ele não envelhece? Não sabia que viajava tudo por conta e risco dele próprio. Um batalhador, hem!!
abraços
Marisa
Meu grande amigo/irmão Henrique.
Você não pegou o endereço do Vado?
E-mail, site, telefone...
Quero levá-lo para Pardinho.
Saudades, meu amigo!!!
abraço.
duka
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