sábado, 2 de maio de 2009

UMA FRASE (35)
AUGUSTO BOAL (1932/2009)
Noite de sábado, quase pronto para sair, ouço a notícia: Morreu Augusto Boal, aos 78 anos. Esse é daqueles que fizeram a diferença. Ousado e competente, Boal possui uma trajetória inigualável dentro da dramaturgia mundial. Pessoa de um caráter fora-de-série. Deixo aqui registrados dois momentos de sua intensa vida:

1. "Augusto Boal, nobre vereador na augusta Câmara do Rio de Janeiro, ficou indignado quando a maioria da casa aprovou uma lei isentando companhias privadas do pagamento de impostos devidos. Pediu a palavra e bradou da tribuna: "Vossas Excelências que votaram essa indignidade são todos ladrões, ou são burros!". Em seguida, alguns vereadores foram ao microfone protestar. Um deles, muito tranquilo disse: "Sua Excelência, o nobre vereador Augusto Boal, exagerou. Ele disse que aqueles que votaram a favor da isenção são todos ladrões ou são burros. Sua Excelência sabe muito bem que aqui ninguém é burro!". Logo a seguir abandonou a política, para nunca mais voltar. E continuou fazendo o que mais gostava e sabia fazer, teatro. Isso está no livrinho "Aqui ninguém ninguém é burro - Graças e desgraças da vida carioca", lançados com seus discursos na tribuna (tenho aqui no mafuá, espécie de bíblia para mim).

2. Homenageado pela UNESCO viu recentemente o trabalho que realiza desde os anos 1960 ser mundialmente aplaudido. Em entrevista para Carta Capital, talvez uma das últimas, desferiu: "Hoje, todas as formas de expressão e comunicação estão nas mãos dos opressores. O que a televisão oferece é um crime estético. E ainda acham estranho que alguém sai matando quinze pessoas de uma vez. O cérebro das pessoas está impregando dessas imagens. As rádios também repetem o mesmo som o tempo todo. Sem falar no tecno, que desregula até marcapasso, e é pior do que ouvir gente quebrando tijolo em construção. Os programas populares da televisão são um massacre, impedem que as pessoas percebam o que está dentro delas. Elas apenas consomem o que lhes é imposto. (...) Cidadão não é aquele que vive em sociedade, cidadão é aquele que transforma". Num mundo praticamente massificado com o seu lado ruim, pessoas como Boal eram imprescindíveis. Fazem uma falta danada, pois as peças de reposição praticamente deixam a desejar (e de existir).

Um comentário:

jacqueline disse...

No meu ateísmo convicto me pergunto...Por que morrem os que devem ficar e ficam aqueles que nem deveriam nascer?