domingo, 31 de maio de 2009

DIÁRIO DE CUBA (30)

UM BATE-PAPO COM UM DIRETOR DE ESCOLA PARA “NINOS”
Esse diário, idealizado após uma viagem feita a Cuba em 2008, por 19 dias, na companhia do amigo Marcos Paulo, continua rendendo capítulos e mais capítulos. Eles vão se estendendo, talvez algo lá do meu interior, que gostaria que essa viagem nunca tivesse terminado. Desde a chegada, em 08/03, até esse relato, a manhã de17/03/2008, uma segunda-feira, já haviam se passados exatos 10 dias. Havana, depois Santa Clara, Cienfuegos e agora novamente Santa Clara, uma cidade que nos encantou, pela hospitalidade. Interiorana, cheia da magia que tínhamos certeza nos envolveria, a cada novo contato com a cidade e sua gente, aquele gostinho de sempre querer mais.

Nessa segunda gostaríamos de estar às 8h na porta da escola Hurtado Mendoza, há pouco mais de uns 300 metros do hotel, vendo as crianças, denominadas de “pioneiras”, reverenciando o país antes de adentrarem para as aulas e fazendo a famosa saudação a Che Guevara. A rotina é a mesma, o celular do Marcos desperta 5h45, porém nesse dia não conseguimos levantar antes das 7h. Foi uma correria, pois não podíamos nos atrasar, do contrário perderíamos o que queríamos presenciar. Não deu outra, chegamos atrasados e perdemos a emocionante cena das crianças cantando, como fazem todos os dias ao adentrarem as salas de aula. O diretor da escola Ramón Palleiro, de apenas 35 anos, já há 13 anos dirigindo a escola, nesse momento com 400 crianças, nos fala em particular. “Aqui na escola não existe atividade monótona, ocorre uma variação constante, intercalando sala de aula, educação física, biblioteca, informática e passeios variados. Todos sabem que o “nino” aprende mais rápido. Entra na escola como se fosse um material bruto, sem nada saber e aqui o encaminhamos para a vida. Essa escola foi fundada em 1854, há mais de 100 anos por um padre, que leva o nome da instituição. Sempre foi pública. Aqui os ninos nos respeitam muito. Os professores, funcionários, somos vistos como maestros em sua formação. O trabalho do educador também se dá fora da escola, no acompanhamento junto à família. Atacamos a causa do problema, quando ele existe junto à família, vamos até lá imediatamente.”, inicia seu relato.

“Cada grupo reunido numa sala tem no máximo 20 alunos. Se em algumas salas dobram essa quantidade de alunos, duas mestras estarão por lá. Existe dois tipos de escola. Essa é do tipo urbana, eles vão almoçar em casa e voltam à tarde. Outras servem merenda. Cada município possui sua micro-universidade, que é a formação de uma classe ideológica, intelectual. Após a revolução, muitos desses se foram e tivemos que formá-los desde o início, num processo que não cessa nunca. Em escola pública tem que ter consenso, regras e toda nossa educação é unificada, uniforme para todo país”, continua seu relato. Presenciamos isso no sábado, quando vimos a presença de universitários na escola.

“Os Estados Unidos é um país onde quando não se tem dinheiro no bolso, eles se sentem mal. São basicamente consumistas. Só chegamos a algum lugar com participação coletiva, desinteressada dos interesses econômicos. Trabalhar com uma criança é sempre muito mais gratificante, pois o aprendizado vai aparecendo mais rapidamente que no caso do adulto. O cubano não esconde seus problemas. Ele tenta resolvê-los atacando a base dos mesmos”, continua seu relato o diretor Ramón. Ele continua nos relatando dos problemas sociais (“existentes em todos os países”), como desvios de conduta, fumo e álcool em excesso. As famílias são contatadas no ambiente escolar e familiar e algo que não acontece e o delas ficarem sem escola. Impossível isso por lá.
Percebemos que o prédio, a edificação pode não estar bonita, porém, o seu no interior nada falta. O lema por lá é “tudo aos ninos”. Um aluno vem respeitosamente pedir ao diretor se pode ir falar com sua mãe que o aguarda na entrada. O diretor concorda e ele sai correndo. O diretor fala: “Sem correr, sem correr”. Ele diminui a marcha imediatamente. Não observo isso como algo ditatorial e sim, de respeito aos superiores, algo que observei por lá em todos os escalões. Uma breve despedida e marcamos para o dia seguinte às 7h40, onde assistiremos o perfilamento dos alunos na entrada. De lá o retorno ao hotel e um café da manhã daqueles com omelete, macarrão quente, pães, queijo, suco, leite, café, maionese e arroz doce. É sempre nossa maior refeição diária. Sigo com minha canela doendo. Tenho andado muito e faço compressas de água quente. Na janela do hotel uma chapa de Raio X com um dedo em riste, para nós um sinal de “vai tomar ...”. Nem imaginamos como foi parar ali. Fotografo tudo isso e muito mais. A seguir voltamos para as ruas e vamos conhecer a imensa universidade da cidade.

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