A ESTAÇÃO, UMA PEÇA TEATRAL E OS REENCONTROS POSSÍVEIS E INIMAGINÁVEIS
Adoro voltar à nossa Estação Central. Perdi esse ano a oportunidade de estar lá na Virada Cultural, mas ontem, no terceiro e último dia da apresentação da peça "O último vagão", de Alba Simões, com direção de Carlos Eduardo Martins lá estive. Noite fria de domingo, ampliada pela área aberta e um tanto desertificada, onde aquele ar de tetricidade da praça Machado de Mello fica ressaltado. Fui só e logo na entrada dou de cara com Roque Ferreira, nosso melhor e mais atuante vereador, acompanhado do Sílvio, Tiago e Fabrício, o atuante trio que o acompanha (com assessores desse quilate tudo só pode dar certo mesmo). Dentre os muitos que vinham lhe cumprimentar, o tema "situação atual da estação" era inevitável. Roque nesses momentos se mostra um tanto irritado, com pavio curto, não sem razão, pois são anos e anos sem uma solução plausível para os ferroviários, que não são corretores de imóvel e na qualidade de atuais donos da estação, ficam entre o fogo cruzado das muitas hipóteses, especulações e iniciativas de venda do imóvel, sem nada de concreto para resolver a pendência trabalhista para seus pares. Reafirmo aqui, que o CODEPAC, presidido por mim em duas gestões, quatro anos, nunca foi o empecilho para facilitar a utilização/venda/restauro, tanto dessa, como da outra estação ao lado, a da Sorocabana. Cedemos sempre, tudo pelo interesse de ver aquela região revitalizada. O que o CODEPAC não pode permitir é a utilização de seu nome como bode expiatório, uma pedra no sapato de quem especulou com a estação. Isso não é verdade e tanto Roque, como os ferroviários e demais interessados precisam estar antenados. Fizemos nossa parte em todas as estações tombadas na cidade. Todas as cinco fazem parte de nossa história e precisam manter um mínimo de preservação, para que essa cidade nunca se esqueça de sua importância histórica. E uma coisa não inviabiliza outra, muito pelo contrário.
A peça rolou num dos espaços mais lúdicos da cidade. Ali, com uma áurea saudosista, um local alternativo que deve ser sempre utilizado para finalidades culturais, até ser definida seu destino final. O palco dessa peça é a própria estação, sua plataforma, hall de entrada e guichês. O que foi passado ali é que a situação de nossa estação, abandonada e vilimpediada é a mesma da atual classe teatral, "abandonada, desrespeitada e tripudiada", como li no folheto de apresentação. Curti bons momentos ali, revendo amigos que convivi de perto nesses últimos quatro anos, como o rei da iluminação, o competentíssimo André Bazan e os contra-regras (espécie de faz-tudo na Cultura local) Marcelo e Eduardo. Presenciei a bela atuação da Susan Lopes e conheci o intenso trabalho de Letícia Ravanini, no papel de uma cigana pedindo uma "plata" para descobrir nosso destino. Diante do frio, fomos num grupo após o fim da peça, tomar o tradicional "pingado" na padaria defronte a praça (funciona 24h). Eu e a performática Regina Ramos comemos também um pão com manteiga na chapa. Regina é uma das pessoas mais sensíveis que conheço. Como é gostoso ouvi-la na sua percepção das relações familiares, ela cuidando de sua mãe e eu dos meus pais. Fiquei a ouvir junto dela um CD com seu irmão cantando, a voz do seu falecido pai na introdução de uma música e um contador de causos da vizinha Lençóis Paulista. Divagamos sobre as possibilidades de um futuro programa de rádio e suas incessantes e modificantes atividades, como as que realiza com um grupo de terceira idade em Paulistânia. Fomos os últimos a sair da região da estação, quando tudo já havia voltado à sua rotina habitual, escura e fria e só o fizemos porque ela queria ver na TV as cantoras brasileiras interpretando velhas canções do Roberto. Foi o que de melhor fiz no final de semana.
OBS.: Na última foto, Regina junto de um senhor, que assistiu a peça e mora debaixo da marquise da estação. Fez questão de cumprimentar todos os que lá estavam.
7 comentários:
Henrique fiquei com muita vontade ir a estação mas queria tambem vender minhhas pipocas liguei tentando falar com o respomsavel e me disseram que não poderia autorizar minhas vendas ai te pergunto teatro mão combima com pipoca???é a cara imagina noite fria teatro da melhor qualidade e pipocas ia ser um sucesso mas sempre tem uma besta louca para dizer não um abraço Ines Faneco
INÊS
Talvez eles não pudessem te autorizar (se fosse eu, autorizaria) lá na parte interna, mas na externa, na porta do evento não teria como ninguém te impedir. É o caso hoje do teatro. O bar/lanchonete está fechado nas apresentações do "Dona Flor e seus dois maridos". Quem irá te impedir de vender na calçada? Ninguém...
Um abraço
Henrique, direto do mafuá
Henrique,
Lindo!
Obrigada pela gentileza!
Adorei a foto com o Senhorzinho.
Qta ternura ele tem no olhar!
bjs
regina ramos
Olá Henrique! Tudo bem com você?
Sou esposa do Valtinho... e gostaria de mais informações a respeito do seu comentário abaixo:
“Vivenciei essa realidade por quatro anos, quando estive à frente da direção dos mesmos e hoje, na Associação dos Amigos dos Museus de Bauru, me deparo com tudo aquilo, porém do lado de fora. São três momentos distintos, o dos museus bauruenses. O Ferroviário, com um boom dentro do segmento, deve passar por amplas transformações em breve e deve estar preparado para esse momento;”
Um abraço!
Marinês
e-mail: marines@sp.senac.br
cara Marinês
Estive por 4 anos dirigindo esse instigante setor. Foi durante minha gestão que trouxemos o Valtinho para os museus. Ele se mostrou de uma dedicação excepcional, de um amor pela ferrovia e pelo museu inigualáveis. Sou amigo dele desde os tempos da "Escolinha" da Rede. Torcia muito por ele, mas ele se isolou demais e ninguém consegue atuar completamente isolado. Eu estou aqui do lado de fora e não me meto (e nem deveria) nas decisões tomadas internamente. Posso até não concordar com muitas delas, mas não me meto. Quando escrevi aquilo que você cita, previa algo de muito bom para os museus bauruenses, princuipalmente o Ferroviário, pois tenho observado uma grande movimentação para se conseguir os prédios das antigas oficinas da NOB, o retorno do Ferrovia para Todos com trecho ampliado, o Centro de Documentação em plena atividade. Tudo isso junto dará um boom a esse museu e quem estiver à frente dele terá que se preparar, não só com amor à causa, mas internamente, com teoria, preparo, para saber manusear adequadamente tudo isso. Sei que o Valter não está mais lá. Sinto por ele, mas vejo que está num outro local, onde também terá oportunidade de amplo reconhecimento. Não tive a oportunidade de falar com ele pessoalmente, mas nessa vida, temos que ter sempre em mente que em nenhum lugar somos insubstituíveis. Eu sai, entrou outro, o Valter sai, entra outro. O Valter saberá ocupar muito bem a nova função.
Um abraço a ti e a ele.
Henrique P. de Aquino
Uma peça...
Uma estação abandonada...
Um último vagão que esperamos seja o primeiro para a restauração de nosso patrimônio histórico!
O ARTE DA DESFORRA possibilitou ao povo a oportunidade de uso da estação. Ficamos tocados pela emoção de quem desfrutou dessa possibilidade! Moradores e transeuntes do local entraram sem saber o que estava acontecendo e participaram. É a arte onde o povo está!
A oportinidade foi dada a todos, alguns pegaram carona e desfrutaram, outros não. É a vida!...
VIVA!!! nosso patrimônio.
VIVA!!! o teatro que cumpre sua função social.
cem
Olá querido Henrique,
A Regina Ramos me repassou o seu texto sobre a ferrovia e o espetáculo Ultimo Vagão e eu fiquei inpressionadíssima com a sua forma de se expressar. Arrepiou meus pêlos e começei a gritar:
Gente, gente, gente! De carne, osso, inteligência, sensibilidade, simplicidade e cultura! Tudo numa mesma pessoa!
Meu caro Henrique, você deve colocar este talento raro mais vezes prá fora e escrever mais textos porque vc é uma preciosidade num terreno árido como o nosso. Deve dar a beber a nós, sedentos de coisas sensíveis e simples ao mesmo tempo. Eu sei que vc se contenta em abrir seu sorriso manso iluminando tudo por onde passa, mas a sua pena....ai criatura, ponha a franga prá fora!
Muito obrigada por me fazer sentir esperanças numa terra de passagem, como diria muitos, e numa terra de medíocres, como diram outros. A sua presença aqui nestas bandas, seja vc nativo ou não, é muito preciosa e não deveria esconder o grande poeta da vida que vc é.
Beijos, obrigada pela emoção
Mariah (Maria Inez Martinez de rezende)
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