sexta-feira, 19 de junho de 2009

UMA ALFINETADA (56)

O FIM DA EXIGÊNCIA DIPLOMA JORNALISTAS - Sai publicado edição d'O Alfinete de 20/06
Cai a exigência de diploma jornalístico para a imprensa brasileira. O que isso tem a ver com o nosso dia a dia? Muita coisa. Em primeiro lugar, existe um lado saudável e outro nem tanto na decisão. As entidades que reúnem os jornalistas e os cursos de jornalismo são contrárias. Sempre se posicionaram a favor do diploma, para a existência, segundo eles, de uma melhor preparação dos profissionais a ingressarem no mercado e também como garantia de um piso salarial. A decisão é muito polêmica, porém de nada servirá para extinguir a falta de liberdade de expressão. Nesse quesito quem dá as cartas não são os jornalistas e sim, os donos do jornal. Quem decide o que sai publicado e a linha editorial de um jornal não são os funcionários e sim seus donos, segundo seus interesses. Isso não mudará e sendo assim, continuaremos lendo o que interessa aos donos dos jornais e recebendo informação da forma como eles acreditam serem a verdade dos fatos. Fico fulo da vida quando leio que em Cuba não existe liberdade de expressão. Por aqui é diferente? Envie algum texto contrariando a linha editorial do seu jornal preferido e constate que ele nunca será publicado. Isso é falta de liberdade de expressão. Continuarei agindo como sempre e me informando por variados meios de comunicação. Isenção só dessa forma.

Vejo uma vantagem. Todo pequeno jornal comunitário necessitava de um jornalista para assinar aquelas poucas páginas com informações restritas a segmentos limitados. Como tudo nesse meio é feito de forma precária, com poucos recursos, ter que buscar um jornalista para somente assinar aquilo, tornava tudo mais difícil. Espero que com a decisão prolifere cada vez mais veículos de informação, como jornais de bairros, comunitários e de interesses variados. Ninguém mais sofrerá perseguição por causa disso, muito menos sofrerá denúncia de atividade irregular.

Eu não tenho diploma de jornalista e nunca fui impedido de escrever nos meios de comunicação, portanto, cai por terra um dos argumentos da decisão do STF – Supremo Tribunal Federal, de que no antigo formato estávamos impedidos de escrever. Existiam regras, que seguidas, não excluíam ninguém de escrever e publicar onde quer que fosse, desde que não fugisse das regras de moderação, ou seja, escreva de tudo, mas dentro do que permitimos. Democratizar a mídia é outra questão e isso ainda não está em cogitação, nem estará na pauta de qualquer decisão de nenhum dos Supremos da vida.

Se existe algo de positivo a ser tirado desse liquidificador, servindo como forma de aplicação imediata é isso: que aflorem mais os pequenos jornais, mais e mais blogs, informativos variados. Todos que quiserem escrever e publicar seus próprios jornaizinhos estejam à vontade, desde que assumam o que publicam, pois escrever e não se identificar é coisa fora da lei. Pau na máquina é o lema para os pequenos, até então reprimidos.
HPA , 48 anos, um historiador que sempre quis ser jornalista, cada vez mais ciente de que há mesmo um modo idiota de resolver problemas.

AI-5 DIGITAL: Não poderia também deixar de dar minha opinião sobre outro tema contundente e meio correlato. Texto substitutivo do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) cria normas e procedimentos para combater os cibercrimes (inicialmente os roubos de senhas e pornografia infantil). Parece ser recheado de boas intenções, mas já recebeu o nome de “AI-5 Digital”, pois poderá transformar os provedores de acesso em centros de espionagem e delação. No Google existem quase 300 referências a esse movimento. Para esses, “o texto é fruto de uma poderosa convergência de lobbies econômicos e se aprovado será um entrave para a livre expansão da internet no Brasil”, afirma um deles. Verdadeiro lobo em pele de cordeiro, pois o que se está querendo é estabelecer um Estado de exceção, muito bem oculto por trás do projeto. Não compremos gato por lebre. Vale a pena uma leitura de suas entrelinhas, antes de aderir cegamente na onda de um projeto aparentemente inocente, de boas intenções, pois o mesmo poderá colocar um fim na livre circulação de idéias pela internet.

Um comentário:

Anônimo disse...

Oi Henrique!
Respeito a opinião dos meus queridos amigos jornalistas, em sua maioria fulos da vida com a decisão do STF (e concordo com todos que o presidente do Supremo é um calhorda).
Mas me deixe fazer uma ressalva que faço a todos: mencionando os meios de comunicação específicos e pequenos como você bem lembrou e, mais especificamente, o meio rádio, essa decisão só veio para acabar com uma mentira. Explico: em 99% das rádios, não existem jornalistas suficientes para escrever os boletins e jornais que as pessoas ouvem. Quem os escreve? As pessoas que trabalham na rádio, oras!
Já conheci recepcionistas que faziam os textos sobre o Norusca nos dias de feriado em uma rádio aqui da cidade. Algum mal nisso? Escreviam coloquialmente como o rádio exige, passavam todas as informações necessárias e nunca houve reclamações. Se o sindicato dos jornalistas aparece, dizem que quem escreveu o texto foi o jornalista fulano de tal, e fica tudo bem.
Outra coisa: nem todos sabem, mas a internet é quem fornece boa parte das notícias que ouvimos no rádio, notícias que são passadas sem verificação, sem menção do autor, sem quentionar as intenções do meio que as publicou primeiro e, muitas vezes, sem adaptação do texto impresso para o radiofônico. E pergunto: que mal há um cidadão copiar um texto da internet e dizer no rádio como se dele fosse, além dos problemas éticos que isso implica? Não é preciso ser jornalista para copiar e colar. Nem é preciso não sê-lo para ser anti-ético.
Enfim, vivendo de rádio há 6 anos, não posso dizer que a falta da obrigatoriedade de ter diploma de jornalista trará algum problema ou mudança.
Abração
W.Leite