domingo, 28 de junho de 2009

COLUNA DO JORNAL BOM DIA (26 e 27)

PENSAMENTO ÚNICO - publicado na edição de de 20/06/2009
Semana retrasada escrevi aqui sobre “Criação e Evolução” e o que mais pegou parece ter sido a frase sobre o acreditar em Deus. Nas interpelações recebidas, noto não mais conseguirem entender como alguém nesse mundo atual ainda consegue agir contrário ao pensamento único dominante (contra a religião, o neoliberalismo...). O primeiro a me abordar foi um vereador na Feira do Rolo e foi logo dizendo: “Penso como ti, mas não posso dizer isso abertamente”. É o mesmo que afirmar: para não ter problemas, saio pela tangente, minto. Nem sempre tivemos esse medo em assumir nossos posicionamentos. Constato isso ao ler entrevista com o compositor Paulo Vanzolini, 85 anos, logo depois do lançamento de documentário sobre sua obra. “Algo distinguia os jovens de ontem com os de hoje, era a liberdade de pensamento”, diz ele de forma enfática. É isso mesmo, hoje nem expressar seu pensamento é mais permitido, sem que lhe caiam de pau. O trem pega quem se arrisca a sair dos trilhos. Para mim é o trem que está fora dos trilhos e nem sempre foi assim. Pioramos. Na mesma entrevista, Vanzolini completa: “Nunca precisei ceder. Sempre pude me dar ao luxo de ser independente. Não faço negócio”. Hoje em dia isso é ainda mais difícil. Pouquíssimos são os que ainda conseguem exprimir de forma sincera o que lhe vêem à mente, sem medo de cobranças e questionamentos, uma chateação sem fim. Quem ainda consegue agir como na música cantada por Cássia Eller: “não mudo minha postura só pra te agradar”?

LIBERDADE É.. - publicado na edição de 27/06/2009
Ter suas convicções, crenças e as professar diariamente sem restrições impostas por quem quer que seja. Fazer o que, quando e como quiser. Credibilidade e respeito coletivo alcançado ao longo do tempo. Felicidade alcançada dessa forma. Coisa para poucos, uma vez que estamos todos atrelados a empregos, cargos e dogmas a nos bloquear as iniciativas, comportamento e atitudes. Exercitar isso é realmente maravilhoso. Porém, quando não existe condição financeira (inerente ao capitalismo), ela nem sempre é alcançada na sua plenitude. Imensa legião de desconectados, loucos para alçar vôo vagam mundo afora. A sobrevivência impõe atuação em descompasso com a convicção. Eu queria ser daquele jeito, mas não posso. A liberdade interior vai sendo cada vez mais reprimida, anulada. Poucos resistem. Dois exemplos de liberdade e dignidade. No primeiro, rapaz é filho de pessoa bem sucedida ligada ao meio empresarial, fervoroso católico e esse, contrariando o pai é comunista. Abdicando de suas convicções lhe serão permitidas todas as benesses, do contrário, torneira fechada. Ter tudo ou não ter nada. Prefere tocar sua vida sem recursos financeiros, mas livre, resoluto, altaneiro. No outro, senhor com certa idade, mal das finanças aceita emprego em entidade dita filantrópica. Presencia e repudia absurdos com verbas recebidas. Pula fora, pois não coaduna com aquela prática. Nem denunciar pode, pois sem provas, sobrará para ele. Segue desempregado e duro, porém livre. Heróis da resistência.

OBS.: Cliquem nas tiras do REP (todas publicadas em junho no Página 12, diário argentino) e elas ficarão legíveis. Essas com textos e diálogos longos são minhas preferidas. As reproduzo aqui em homenagem às eleições que hoje ocorrem por lá. Se querem saber, hoje dia frio, mesmo com todas recomendações sobre a gripe, o lugar em que gostaria de estar era presenciado essas eleições, in loco, nas ruas de Buenos Aires. Como não o faço, permaneço aqui em meu mofado mafuá, ouvindo muita música. Deixo algo inebriante enviado pelo amigo Arthur Monteiro Jr. "Seguem alguns links de canções do cantor e compositor Zeca Afonso. Zeca é uma espécie de Geraldo Vandré português, um representante legítimo da canção engajada. Perseguido pela ditadura salazarista foi preso várias vezes pela Pide, a polícia política portuguesa. É dele a canção escolhida pelos capitães de abril, que serviu de senha para desencadear o movimento que culminou na Revolução dos Cravos. Zeca Afonso nasceu em Aveiro e faleceu em Setúbal, aos 57 anos. A maioria dos vídeos foram gravados no show que aconteceu no Coliseu dos Recreios em Lisboa, em 1983". Sintam o mesmo que eu e tenham todos um ótimo domingo:

Um comentário:

Anônimo disse...

Já de saco cheio por ver mais um golpe de estado na miserável América Central,resolvo ler o mafuá e dei de cara com a matéria de crer ou nao crer em deus, e lá vai minha opinião.

"Tres criações do homem
o fez para sempre escravo
até hoje nos consome
dinheiro, deus e o estado".

um abraço e bom domingo

Lázaro Carneiro