DIÁRIO DE CUBA (32)REUNIÃO EM UMA CASA DE 1890
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Chegamos à última coisa que faríamos
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naquele dia, 17/03/2008, uma segunda-feira, em Santa Clara – Cuba, quando por volta das 21h vamos até a casa da professora Judith Quesada Miranda e sua família. Levamos dois refrescos (os ditos refrigerantes lá deles, também em garrafas pet de 2 litros). São apenas 300 metros do hotel, numa estreita rua e uma construção com porta e janelas rente à calçada. O que impressiona logo de cara é a construção, essa das mais antigas, com certeza centenária. Depois fomos informados ser de 1890.
Eduardo, filho de Judith, 31 anos nos recebe na porta junto com
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Almara, sua esposa (ela membro do PCC, nos mostra sua carteira). Na casa, junto deles está a amiga
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Ângela, da cidade vizinha de Sancti Spíritus. Tudo é antigo lá dentro, com móveis e peças valiosas, como se estivéssemos num antiquário, no meio de alguns sacos de cimento e areia pelos cantos (estavam em reforma). Sentamos todos em círculos, em cadeiras de balanço (que luxo) e começamos um longo bate papo, que se estenderia até uma da manhã.
E
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le fala muito das cidades que passamos e da que iremos em seguida, Santiago de Cuba e da
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famosa Sierra Maestra. Pede certo cuidado, por ser uma cidade muito “caliente” e “folclórica”. Rimos e nossa resposta foi sobre ele nada saber do que venha a ser perigo, pois nunca andou numa cidade qualquer de nossa América Latina e as ruas de nossa cidade, Bauru. "Em Cuba vocês podem andar tranquilos, nada irá lhes acontecer", Judith noz diz. Eduardo repete muito algo a nos emocionar: “Se o país me educou, formou, investiu no meu conhecimento, ele também acredita em mim, pois sei pensar e agir, sabendo colocar em prática tudo o que aprendi”. Se pensam que só elogia, tece também um parecer de que
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algo poderia ser diferente: “O leite tirado aqui em Santa Clara segue 40 km para ser processado e pasteurizado, depois voltando os 40 km para ser consumido. Com bom senso, poderíamos ter esse processo em nossa cidade”. São ajustes de algo que se ainda não é feito, com certeza
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poderá ser feito no futuro.
Quando lhe falo de minha admiração por Eusébio Leal, o responsável pela recuperação do patrimônio cubano, ele diz fazer “parte de uma nova geração de cubanos, que conquistou novos procedimentos do regime e que só consegue promover os restauros com ajuda internacional (nosso país é pobre), além de algo inusitado para nós, uma parte dos impostos turísticos é toda revertida para essa finalidade”. A olhos vistos, Havana está de pernas para o ar, com tapumes espalhados por todos os lados, numa verdadeira segunda
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revolução, essa de retransformação urbanística e de revitalização de sua arquitetura. Uma
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beleza ver isso por todos os cantos.
No meio da conversa ele se levanta e traz um mimo para Marcos. Um cartão de visitas de Fidel (ele não desgrudaria mais do mesmo), que o encanta à primeira vista. Não poderia estar em melhores mãos. Ouvimos muitas histórias, da forma como o ensino é praticado, das viagens que fazem de uma cidade à outra, de um filho vivendo na Venezuela, dos anos difíceis quando a URSS deixou de ajudar Cuba, os tickets alimentares e muito mais. No retorno para o hotel estávamos extasiados por comprovar como a vida pode ser vivida de forma bem simples, saudável e prazerosa. O outro mundo que tanto lutamos é mesmo possível e a cada dia tínhamos mais certeza disso. Um país onde o dinheiro não é objeto mais importante a mover a vida das pessoas. Na manhã seguinte outra surpresa...
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