COMO FOI O PASSEIO PELO CENTRO HISTÓRICO DE BAURUEste tipo de relato gosto não só de fazer, como de participar. E assim se deu. Na tarde deste sábado, 29/03, instigado pelo anúncio de mais um "Passeio pelo Centro Histórico de Bauru", algo realizado pelos professores de História, Edson Fernandes e Fábio Paride Pallotta, com apoio intitucional da Apeoesp e presença do professor Matheus Versatti, um grupo se reuniu na praça Rui Barbosa e pouco depois das 16h, a circulação do que ainda pode ser vislumbrado numa caminhada, começando ali e terminando na praça Machado de Mello, junto da Estação da NOB.
Tudo tem início com a apresentação dos presentes. Muitos estudantes, principalmente de História, servidores municipais, professores, gente curiosa por conhecer um pouco mais da história da cidade onde vive e dois representantes da vizinha Arealva, em busca de subsídios para lá realizarem algo parecido. E depois, a inflamada fala dos dois professores, quando se percebe, que além de tudo, o interesse preservacionista e de resgate do passado, até para conseguir entender a contento o que se passa hoje.
Reunidos no centro da praça, Edson conta algo da rua Araújo Leite, "a primeira a receber denominação nominal de rua na cidade", uma ligando onde tudo começou, a Baixada do Silvino, vindo até a praça. Tudo começa com fazendeiros doando terreno para a construção sda igreja, 80 alqueires e depois, algo auspicioso com a chegada das ferrovias, 1903 a Sorocabana, 1905 a Noroeste e em 1910 a Paulista. A história de como a igreja passa a fazer uso das terras a ela doadas é algo que se repete pelo país inteiro. Um aluguel foreiro foi cobrado de todos os munícipes, obrigando os que não queriam ou tinham condições de pagar a se estabelecer fora desses domínios. Daí surgem as primeiras vilas de trabalhadores, a Falcão, depois a Antarctica.
Da explanação vai-se para a andança, a circulação e tudo tem início , uma vez na praça com todos sendo levados para o exato local onde foi levantada a primeira capela, que depois gerou a fama de Bauru ter sido excomungada, quando derrubada. Os detalhes de como se deu aquilo tudo, perpaça a história e cai no anedotário popular. Enfim, o que de fato foi história ou lenda?
Saindo da praça, impossível não descrever algo do coreto e dos jequitibás ali ainda resistindo ao tempo. O coreto, infelizmente não teve essa sorte e hoje, em seu lugar, um gramado e a promessa de algo de concreto, como o ocorrido quando a lajotaram quase que por inteiro. Na esquina das ruas Antonio Alves e Primeiro de Agosto, a Casa Savastano, que nos primórdos foi loja de venda de roupas finas. O casario resiste ao tempo, com suas guirlandas e varandas, hoje desocupadas. Ainda na praça, o Automóvel Clube, obra de 1939 e ali, Pallotta não resiste: "Pelo nome já se constata, o modal automóvel estava vencendo o modal ferroviário". Na passagem diante da Casa Luzitana, com sua fachada, parte das janelas já alteradas, a revelaçao de não sendo imóvel tombado, já teria sido substituído por um shopping de rua. Um porta de ferro, detalhes esculturais resiste dentro do contexto.
O grupo desce a primeira quadra da rua Primeiro de Agosto, onde em poucas quadras a concentração da denominda Cinelândia, todos os cinemas da cidade ali vicejaram e num deles, capacidade na época para 1200 pessoas, algo inimaginável nos ainda risistindo cinemas de rua. "Hoje tudo substituido para cinemas de shopping, com 100 a 200 lugares no máximo", conta Pallotta. Uma boa prosa diante do Edifício Abelha, algo que, segundo os historiadores, "talvez em mais alguns anos, nada disso resista mais, mesmo sendo tombados pelo CODEPAC".
Algo interessante se passa quando o grupo cruza a esquina da Batista de Carvalho com Rio Branco e Pallotta é interpelado por um jovem ali no local: "Professor, quem foi Rui Barbosa? Quem foi Batista de Carvalho?". Todos param para ouvir as respostas e por fim, algo pouco conhecido, o de quem dá nome para o hoje Calçadão não ter sido de alguém assim tão imponente, como um coronel da época e sim, quem dali vivenciava suas histórias. Os professores tentam mostrar, observando as fachadas dos prédios, os vários estilos, vicejando dentre todos, o art decó. Na parada das esquinas da Primeiro de Agosto com Agenor Meira, dois hotéis, um de cada lado da rua, o Alvorada e o Cidade de Bauru, com estilos bem definidos no alto de suas paredes.
Tudo é motivo para paradas e explicações. A conversa rende e o tempo urge. O comércio começa a fechar suas portas por volta das 17h30 e poucas lojas permanecem com as suas abertas até mais tarde. Em cada fachada, como a do Palácio Pagani, onde hoje funciona uma farmácia, uma das poucas restauradas. Em cada, tudo encoberto também por uma fiação embaralhada, escondendo em alguns, a beleza do que um dia vicejou no centro da cidade. Evidente, muita coisa se perdeu arquitetonicamente na cidade. Superficialmente, tudo sendo observado numa breve caminhada, gera tristeza, assim como a degradação do centro e também a forma como a tual administração promove a recuperação do piso do Calçadão. Nada levadao muito a sério.
Na praça Machado de Mello, palco de muita história. Seu busto de costas para a estação, sendo ressaltado, que este, o maior matador de índios, por iniciativa do então vereador Roque Ferreira, não poderia ser ali fixado olhando para a estação. Muitos participam com seus relatos, feitos ferroviários, recordações do passado, acontecimentos ali produzidos, como o feito por Versatti, quando integralistas comandados pelo então comandante dos "galinhas verdes" são escorraçados de nossas ruas, numa forma espontânea de como devem ser tratados os fascistas. Ele aponta o local e é citado um fascista falecido na ocasião, cujo túmulo do Cemitério da Saudade foi venerado por estes até bem pouco tempo. Enfim, em Bauru ocorreram confrontos memoráveis e alguns destes recordados. Conto, quando instigado a falar, sobre a história vivenciada por tantos trens diários, indo e vindo, os latinos que por aqui circulavam e o projeto da composição Maria Fumaça, infelizmente não incentivado a ter continuidade.
Na dispersão, quando o dia já começava a escurecer, algo sentido por todos no retorno para o ponto de partida. A cidade esvazia rapidamente e seu centro com encerramento das atividades comerciais, apenas com duas farmácias abertas e a Lojas Americanas, a última a fechar aos sábados. Nem janelas acesas existem mais, pois poucos ainda moram em locais no Calçadão.
Os professores Edson e Fábio produzem algo grandioso, com apoio decisivo da Apeoesp e atraem muitos, pois o que fazem em conjunto é elucidativo, questionador e provocativo. É desta forma, andando, vendo in loco a situação atual, voltando nossos olhos para o passado, assim entendemos melhor o que já fomos, onde estamos e o que queremos para nosso futuro. Caminhar com eles é mais que gratificante. Aprendi muito. Quero mais. Ao final sou inscrito num grupo de discussão do passeio, onde tudo deve ter prosseguimento e gerar boas conversas. Assim caminhamos.
Um olhar desatento pelo centro de Bauru faz prevalecer a ideia de que o abandono mata, dia a dia, o patrimônio histórico e cultural da cidade. Um olhar mais atento e se descobre maravilhas da arquitetura, como o Edifício Pagani, na esquina das ruas Batista de Carvalho (Calçadão) com Virgílio Malta.
O Automóvel Clube de Bauru de tantas histórias e pode servir à cultura de Bauru, a depender da vontade política de se tirar um projeto engavetado prevendo a doação para a Prefeitura de Bauru. O que falta?
Da mesma forma a Praça Machado de Mello, endereço do colossal prédio da ferrovia Estrada de Ferro Noroeste do Brasil (NOB), necessita de muito investimento em infraestrutura, obras de drenagem, que evite alagamentos na praça, e uma profunda intervenção de recuperação do prédio da Estação Ferroviária.
Vizinho, o Museu Regional Histórico permanece fechado. O complexo abriga um acervo cultural e de pesquisa inestimável, e a Praça Kaingang, lugar que abrigou shows pequenos, num ambiente acolhedor.
Alguns prédios fechados do centro dão impressão de que estão condenados e a demolição é certa, como na quadra 6 da rua Primeiro de Agosto, de frente à sede da Sociedade Italiana Dante Alighieri. Sociedade que é uma das referências históricas e arquitetônicas do centro.
Realidade que se constata no rolê monitorado pelos professores Edson Fernandes e Fábio Paride Pallotta, coordenadores do projeto Passeio Pelo Centro Histórico de Bauru, com apoio da Apeoesp - subsede Bauru.
* Publico minhas impressões sobre o Passeio pelo Centro Histórico de Bauru e a advogada Zanin comenta em detalhes algo para aprofundar o conhecimento e ampliar discussão sobre o tema.
Patrimônio público refere-se a todos os bens, recursos e valores que pertencem ao Estado e são destinados ao uso e benefício da sociedade. Inclui terrenos, prédios, como escolas e hospitais, equipamentos, veículos, dinheiro sob a gestão do governo, direitos autorais, patentes, e outras formas de propriedade intelectual que geram benefícios para o Estado, recursos naturais como água, minerais e florestas que são administrados pelo governo para garantir seu uso sustentável e beneficiar a população.
Patrimônio histórico cultural. Patrimônio cultural
É interesse de todos os brasileiros e um dos campos de atuação do Ministério Público Federal.
Denomina-se patrimônio cultural o conjunto de bens, materiais ou imateriais, que traduzem a história, a formação e a cultura de um povo, uma comunidade ou um país. Isso abrange os seguintes temas:
• bens móveis e imóveis, tomados isoladamente;
• conjuntos arquitetônicos, urbanísticos, históricos e paisagísticos;
• paisagens culturais que revelem uma combinação da ação do homem com a natureza;
• paisagens concebidas intencionalmente, como jardins e parques;
• paisagem que apresente provas de sua evolução ao longo do tempo;
• paisagem associada a fenômenos religiosos/simbólicos;
• patrimônio documental ou arquivístico;
• patrimônio cultural imaterial (formas de expressão, modos de criar, fazer e viver);
• patrimônios paleontológico (fósseis) e espeleológico (grutas e cavernas);
• sítios arqueológicos;
• áreas vizinhas a bens culturais; Exemplos da atuação:
Meio ambiente é tudo o que nos cerca, e o patrimônio cultural é um dos seus aspectos.
Por isso, o direito fundamental ao meio ambiente sadio e ecologicamente equilibrado, essencial à qualidade de vida, engloba também a dimensão cultural.
Todo bem cultural deve ter um uso que preserve suas características essenciais. Quando isso não é respeitado, o MPF entra em ação, na esfera judicial ou fora dela. Atua, por exemplo, para:
• coibir projetos de obras e construções que descaracterizem o bem protegido;
• promover a recuperação dos bens em estado de deterioração;
• declarar o valor cultural de um determinado bem.
Muitas vezes, áreas protegidas ou bens culturais se localizam em pólos turísticos, e é preciso compatibilizar o turismo e a proteção do bem cultural. Exercido de forma organizada e sustentável, o turismo pode ser um instrumento importante para a preservação do patrimônio cultural.
Todos podem defender
Os cidadãos têm direitos culturais assegurados pelo ordenamento jurídico brasileiro.
Alguns deles são os de participar da vida cultural, ter acesso aos bens culturais e às fontes de cultura, ter respeitadas a identidade, a diversidade e a liberdade cultural.
Também têm o direito de conhecer a própria história e a de seu povo, de saber e de participar das decisões que afetem os bens culturais.
A Constituição de 1988 atribui ao Poder Público, com a colaboração da comunidade, a proteção do patrimônio cultural brasileiro, repartindo a responsabilidade pela gestão dos bens culturais entre o Estado e a sociedade.
Tanto empresas e particulares como entidades públicas podem ser responsabilizadas por violações contra o patrimônio cultural. Se souber de alguma irregularidade, comunique ao
E a responsabilidade de cuidar do patrimônio público?
Os bens patrimoniais são de responsabilidade dos servidores públicos que detêm a sua guarda, a quem cabe o adequado controle e preservação do acervo, conforme parágrafo único do art. 70 da Constituição Federal.
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