Em tempo: A foto é do Malavolta Jr e saiu publicada na edição do último domingo do JC, dia após o fatídico, casual, inesperado e controvertido encontro dos atuais mandatários da cidade.
PUNHOS FECHADOS, ESCOLHAS FEITAS, COMO SOBREVIVER DENTRO DO SISTEMA?Ontem um amigo, numa conversa longa me diz do quanto está difícil o momento vivido por ele, além de todos os problemas advindos da pandemia, a tal eterna crise brasileira, esse país que Bolsonaro diz não saber como governar, acrescenta o seu problema pessoal. Ele, militante político, vê as portas se fechando mais e mais à sua frente e de nada adianta pedir emprego nas empresas locais, pois segundo ele crê, seu nome já está inscrito numa espécie de index, uma lista de indesejáveis. E ele faz de tudo, tenta, continua insistindo e sobrevivendo mal e porcamente, ao seu modo e jeito, inventando seus empregos.
Conto a ele, talvez com o intuito de incentivá-lo, o que ouvi um dia e serviu para mim, também com dificuldades de pedir emprego nas empresas onde constantemente criticava em meus escritos. Digo que, o maior jornalista brasileiro, Mino Carta, após um certo momento, escrevendo de forma livre, sem amarras e sem medo de perder o provável emprego, quando diante de um fato jornalístico, escrevia e pronto. Claro, as portas se fechavam e ele teve que se reinventar, tendo que a partir daí inventar seus próprios empregos. Não conseguiu mais emprego e nem bateu mais nessas portas. Trilha caminho bem mais complicado, funda suas próprias revistas. Evidente que, são situações bem diferentes. Mino tem, sempre teve alguma condição financeira, enquanto que, a maioria dos que batem de frente hoje, nada possuem e assim, o fazer por conta própria é também muito complicado.
Hoje, lendo um livro de Eduardo Galeano, escritor uruguaio que gosto demais da conta, ele apaixonado por futebol, escreveu muito sobre o tema e depois de sua morte, reuniram tudo numa coletânea, a "Fechado por Motivo de Futebol". Só com textos curtos, refinada leitura, todas com o propósito de fazer pensar, ele escreve algo exatamente sobre as escolhas que a gente faz na vida. Na sequência reproduzo esse texto:
"Fotos: punhos erguidos ao céu
Cidade do México, Estádio Olímpico, outubro de 1968. A bandeira das listras e das estrelas ondula, triunfante, no mastro mais alto, enquanto vibram os acordes do hino dos Estados Unidos. Os campeões olímpicos sobem ao pódio. E então, no momento culminante, Tommie Smith, medalha de ouro e John Carlos, medalha de bronze, negros os dois, norte-americanos os dois, erguem seus punhos fechados, em luvas negras, contra o céu da noite.
O fotógrafo da Life, John Dominis, registra o acontecimento. Aqueles punhos erguidos, símbolos do movimento revolucionário Panteras Negras, denunciam ao mundo a humilhação racial nos Estados Unidos. Tommie e John são imediatamente expulsos da Vila Olímpica. Nunca mais poderão participar de nenhuma competição esportiva. Os cavalos de corrida, os galos de briga e os atletas humanos não têm o direito de ser estraga-prazeres.
A esposa de Tommie se divorcia. A esposa de John se suicida. De regresso ao país, ninguém dá trabalho a esses criadores de caso. John se arranja do jeito que dá e Tommie, que conquistou onze recordes mundiais, lava automóveis a troco de gorjetas".
A história deles é triste, mas nem por isso ou por causa disso devemos desistir dos sonhos de lutar, de enfrentar esses poderosos e apontar a existência de outro caminho e também outro mundo. Desde o primeiro momento, quando decidimos ser assim, lutar por esse algo coletivo, escolha feita, a certeza de que, o trilhar dali por diante seria diferente do que havia sido até então. Esse amigo vive um dilema, encruzilhada, atormentado por pressão de todos os lados, não pensa em desistir. Queria desabafar, tocar figurinhas e fiz o que podia lhe dar naquele momento, conversamos até não mais poder. Disse também a ele que, neste momento, conheço muitas histórias ao nosso redor, todas muito parecidas, são os tais "marcados para morrer", os que combatem o sistema, precisam sobreviver e não podem, o orgulho próprio os impede de se rebaixar, se vergar, abandonar a lida e adentrar de cabeça baixo o sistema. Enfim, um conflito pelo qual passei, passo e não só nós. Faz parte da luta da qual estamos atolados até o pescoço. Cavar e buscar, eis o que nos resta.
O fotógrafo da Life, John Dominis, registra o acontecimento. Aqueles punhos erguidos, símbolos do movimento revolucionário Panteras Negras, denunciam ao mundo a humilhação racial nos Estados Unidos. Tommie e John são imediatamente expulsos da Vila Olímpica. Nunca mais poderão participar de nenhuma competição esportiva. Os cavalos de corrida, os galos de briga e os atletas humanos não têm o direito de ser estraga-prazeres.
A esposa de Tommie se divorcia. A esposa de John se suicida. De regresso ao país, ninguém dá trabalho a esses criadores de caso. John se arranja do jeito que dá e Tommie, que conquistou onze recordes mundiais, lava automóveis a troco de gorjetas".
A história deles é triste, mas nem por isso ou por causa disso devemos desistir dos sonhos de lutar, de enfrentar esses poderosos e apontar a existência de outro caminho e também outro mundo. Desde o primeiro momento, quando decidimos ser assim, lutar por esse algo coletivo, escolha feita, a certeza de que, o trilhar dali por diante seria diferente do que havia sido até então. Esse amigo vive um dilema, encruzilhada, atormentado por pressão de todos os lados, não pensa em desistir. Queria desabafar, tocar figurinhas e fiz o que podia lhe dar naquele momento, conversamos até não mais poder. Disse também a ele que, neste momento, conheço muitas histórias ao nosso redor, todas muito parecidas, são os tais "marcados para morrer", os que combatem o sistema, precisam sobreviver e não podem, o orgulho próprio os impede de se rebaixar, se vergar, abandonar a lida e adentrar de cabeça baixo o sistema. Enfim, um conflito pelo qual passei, passo e não só nós. Faz parte da luta da qual estamos atolados até o pescoço. Cavar e buscar, eis o que nos resta.
O JC INCENTIVA ABILOLADOS COMO COLUNISTAShttps://www.jcnet.com.br/.../746499-e-legal-matar-bebes...
Nó último domingo um pastor batista, Hugo Evandro Silveira publica em sua coluna semanal e dominical no Jornal da Cidade algo aterrador. A simples aprovação da lei de aborto da Argentina o faz produzir um texto mesclando fantasia com aquela pitada fundamentalista, dessas abominações a demonstrar o grau de desvio da mente humana. Na verdade, o citado cidadão desvirtua até mesmo o que leu um dia na bíblia, tudo para reafirmar seu posicionamento tacanho, limitado, excludente e preconceituoso. Fossemos nós e tivéssemos a coragem que os argentinos estão tendo neste momento e algo de bom já estaria a caminho, mas não, só estamos regredindo e com o único jornal impresso da cidade abrindo espaço para a bestialidade ali lida, vejo que a informação sofre sérios riscos. Essa história me faz lembrar de minha sogra, carioca e também professando a fé batista. Em todas as vezes que veio nos visitar - e não foram poucas -, ela no início me pedia para levá-la aos cultos batistas. Foi em vários, mas depois desistiu e me dizia: "Henrique, não dá, os pastores daqui são muito conservadores. Não consigo seguir algo assim. Lá onde vou, pastor Israel da Itacuruçá, Tijuca Rio, presencio algo bem diferente". Deixou de me pedir para levá-la e quando aqui, assistia aos cultos pela internet, sem ter que presenciar a pregação despirocada do que via sendo exercida nas igrejas locais. Num outro momento me questionou: "Ninguém contesta aquilo? Os fiéis aceitam numa boa? Como pode?". Respondo com minha indignação: como ler algo assim tão "fora da casinha" e não se manifestar? Ou esses caras enlouqueceram de vezes ou a religião hoje se tornou algo totalmente fora da realidade.
Da série, "nunca mais voltará a ser como antes", passo dias atrás pelos altos da Campos Salles, já adentrando a grande Nova Esperança, quase em frente onde muitas décadas atrás funcionou um curtume, tendo no lugar hoje conjunto de prédios do Minha Casa Minha Vida e dou outro lado da rua, bem ao lado de um conjunto de casas, construídas para ser dos trabalhadores, a linha férrea e ela num elevado, algo que todos podiam ver de longe. Com a ação das últimas chuvas o elevado foi levado e no lugar o início de uma imensa erosão, primeiro levando de roldão a terra, o monte que dava sustentação para os trilhos e no lugar uma linha férrea pendurada no ar. Desolação ao ver a cena, pois ela foi sendo construída aos poucos, primeiro com avisos do que ia acontecer, depois levando pouco a pouco a terra, sem que nada fosse feito ou até mesmo pudesse ser feito. Da tristeza da cena, algo ainda mais entristecedor é notar que a linha já não sendo mais utilizada, nem para transporte férreo, a tristeza de ver que o cenário será ad eternum o visualizado hoje, talvez pior, pois em breve a linha vai despencar no desfiladeiro ali criado e a imensa erosão irá, pouco a pouco, tomando conta de tudo. Enfim, se antes o lugar era movido pelo apito dos trens avisando a chegada e assim, a liberação dos trilhos, hoje um cenário tipo "fim de feira", como se o que nos aguarda no futuro é algo dessa natureza, uma transformação de nossa paisagem para pior, nunca mais voltando a ser como dantes. Pra que iriam reparar aquele trecho se nem trens mais passam por ali e com a cidade toda na decrepitude, ali não existe nenhum sentido de urgência? Creio já devemos nos acostumar com a erosão, a "boca desdentada" na paisagem.
Nó último domingo um pastor batista, Hugo Evandro Silveira publica em sua coluna semanal e dominical no Jornal da Cidade algo aterrador. A simples aprovação da lei de aborto da Argentina o faz produzir um texto mesclando fantasia com aquela pitada fundamentalista, dessas abominações a demonstrar o grau de desvio da mente humana. Na verdade, o citado cidadão desvirtua até mesmo o que leu um dia na bíblia, tudo para reafirmar seu posicionamento tacanho, limitado, excludente e preconceituoso. Fossemos nós e tivéssemos a coragem que os argentinos estão tendo neste momento e algo de bom já estaria a caminho, mas não, só estamos regredindo e com o único jornal impresso da cidade abrindo espaço para a bestialidade ali lida, vejo que a informação sofre sérios riscos. Essa história me faz lembrar de minha sogra, carioca e também professando a fé batista. Em todas as vezes que veio nos visitar - e não foram poucas -, ela no início me pedia para levá-la aos cultos batistas. Foi em vários, mas depois desistiu e me dizia: "Henrique, não dá, os pastores daqui são muito conservadores. Não consigo seguir algo assim. Lá onde vou, pastor Israel da Itacuruçá, Tijuca Rio, presencio algo bem diferente". Deixou de me pedir para levá-la e quando aqui, assistia aos cultos pela internet, sem ter que presenciar a pregação despirocada do que via sendo exercida nas igrejas locais. Num outro momento me questionou: "Ninguém contesta aquilo? Os fiéis aceitam numa boa? Como pode?". Respondo com minha indignação: como ler algo assim tão "fora da casinha" e não se manifestar? Ou esses caras enlouqueceram de vezes ou a religião hoje se tornou algo totalmente fora da realidade.
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