domingo, 10 de janeiro de 2021

FRASES DE LIVRO LIDO (161)


A BATALHA QUE FOI PERDIDA – NO SISTEMA VIGENTE, NÃO ADIANTA INSISTIR, ACABOU O EMPREGO E O QUE VIRÁ PELA FRENTE – UM LIVRO DISSECA O TEMA
Não só o emprego como conhecíamos acabou, como os que tentam remediar e ainda nos enganando com falácias como, “faremos de tudo para que tenhamos mais empregos”. Impossível. Prevalece o que já está mais do que estabelecido, fins das leis trabalhistas e introdução de algo como essas MEIs – Microempresários que pensam ser donos do próprio negócio, mas cada vez mais escravizados. Se existia alguma dúvida, para mim foi dissipada ao terminar neste domingo – e tomar um porre depois, pois como ainda não digeri bem a situação, só mesmo em alto estado etílico para suportar o que já ocorre e o que virá pela frente. O livro em questão é o “O Horror Econômico”, da romancista e ensaísta Viviane Forrester, editora Unesp SP, 1997, 160 páginas e versa sobre esse instigante tema, o da decomposição dos valores humanísticos e sociais que hoje se tornam algo repugnante para quem nos guia, as tais leis do mercado. Ou seja, o ser humano já era, está totalmente descartado, principalmente essa imensa massa humana, antes dependente do trabalho para ter seu sustento e hoje, sem ele, perdidos e sem esperança. E qual o futuro para estes – dentre os quais me incluo? Seremos engolidos, trucidados, moídos nessa máquina de moera carne humana que é o neoliberalismo predatório. Escolho frases escolhidas a dedo do livro, servindo para reflexão de algo que, pelo que vejo, não adianta espernear, perdemos o jogo e o fim de todos nós, hoje mais que descartáveis será mesmo um trágico fim:

- Quando tomaremos consciência de que não há crise, nem crises, mas mutação? Participamos de uma nova era, sem conseguir observá-la. (...) Multidões de seres lutando, sozinhos ou em família, para não deteriorar-se, nem demais nem muito depressa. (...) Não é o desemprego em si que é nefasto, mas o sofrimento que ele gera. (...) Não há nada que enfraqueça nem que paralise mais que a vergonha. (...) ...para merecer viver, deve mostrar-se útil à sociedade, pelo menos aquela parte que a administra e a domina. (...) Útil, aqui, significa quase sempre rentável, isto é, lucrativo ao lucro. Numa palavra, empregável (explorável seria de mau gosto!). (...) O que ocorre com o direito de viver quando este não mais opera, quando é proibido cumprir este dever que lhe dá acesso. Tantas vidas encurraladas, manietadas, torturadas, que se desfazem, tangentes a uma sociedade que se retrai. As pessoas são absorvidas, devoradas, relegadas para sempre, deportadas, repudiadas, banidas, submissas e decaídas, além de incômodas. (...) É dessa maneira que se prepara um sociedade de escravos. (...) Não é pouca coisa ter à sua mercê aqueles outros que, providos de salários, de empregos, não protestarão, com medo de perder conquistas tão raras, tão preciosas e precárias, e ter que se juntar ao bando poroso dos miseráveis. (...) Vero o mais número de seres humanos supérfluos. E por essa razão, nocivos.

- Esse mundo em que o local do trabalho e o trabalho era indispensável parece que está escamoteado, fazendo a transição para o mundo atual, das multinacionais, das transnacionais, do liberalismo absoluto, da globalização, da mundialização, da desregulamentação, da virtualidade e quase sempre sob a dominação de potências distantes e complicadas. (...) Uma quantidade importante de seres humanos já não é mais necessária ao pequeno número que molda a economia e detém o poder. Uma multidão de seres humanos encontra-se assim sem razão razoável para viver neste mundo, onde, entretanto, eles encontraram a vida. (...) ...enquanto vivos , sua presença não corresponde mais à lógica dominante, uma vez que já não dá lucro, mas, ao contrário, revela-se dispendiosa, demasiado dispendiosa. (...) Só uma pequena porcentagem da população terrestre encontrará funções. (...) Para um indivíduo sem função, não há lugar, não há mais acesso evidente à vida, pelo menos ao seu alcance. (...) O trabalho se acha, mais do que nunca, submetido ao bel prazer da especulação, ao mundo considerado rentável em todos os níveis, um mundo totalmente reduzido a ser apenas uma vasta empresa. Alguns diriam: um vasto cassino. (...) nenhum sentimento, nenhum escrúpulo, nem qualquer compaixão.

- Despercebido, o novo esquema planetário pode invadir e dominar nossas vidas sem ser levado em conta. (...) Esse regime que jamais foi proclamado detém todas as chaves da economia que ele reduz ao domínio dos negócios. A potência exercida é tanta, seu domínio é tão arraigado, sua força de saturação é tão eficaz que nada é viável nem funciona fora de suas lógicas. Fora do clube liberal, não há salvação. Os governos sabem disso. (...) estamos realmente na violência da calma. A preocupação destes é procurar sempre mais lucro. 

- Que podem esperar esses excluídos do futuro? Como será sua velhice, se chegarem até lá? (...) Desses repudiados, desses abandonados à própria sorte e lançados num vazio social, esperam-se, entretanto, comportamentos de bons cidadãos destinados a uma vida cívica, toda de deveres e direitos, ao passo que lhe é retirada toda oportunidade de cumprir qualquer dever, enquanto seus direitos, já bastante restritos, são simplesmente ridicularizados. (...) O exercício do pensamento, reservado só a alguns, preservará seu domínio. (...) Fantasmas de uma sociedade desaparecida e que mostra a extinção do trabalho como um simples eclipse. (...) Como o futuro previsto não acontecerá, só se vislumbra o futuro a ser privado dela.

- As empresas não dão emprego pela simples e Excelente razão de que elas não tem necessidade. (...) Repita-se: a vocação das empresas são é serem caridosas. (...) Em nossos dias, com ou sem razão, o emprego representa um fator negativo, de alto preço, inutilizável, nocivo ao lucro! Nefasto, não tem mais razão de ser desde que este se tornou supérfluo. (...) O emprego é considerado por aqueles que poderiam distribuí-lo um fator arcaico, praticamente inútil, fonte de prejuízos e déficits financeiros. (...) A oportunidade de instalar ou de aperfeiçoar sistemas tecnológicos e a robotização que, pelo contrário, são capazes de reduzir o potencial humano e, portanto, economizar o custo salarial. (...) as riquezas assim criadas só tem por efeito aumentar algumas fortunas.

- É necessário, em todos os países, encurtar a duração dos direitos ou tornar as condições de admissões mais restritas. (...) Contra os excluídos, a batalha ruge. Decididamente, eles ocupam muito lugar. Eles ainda não foram excluídos o bastante. Eles irritam. (...) Os empregadores (os quais, na verdade, não tem a função de ser sociais) só concordam em fazer alguns esforços preguiçosos para contratar ou para não demitir trabalhadores se estes estiverem em condições de aceitar qualquer coisa. (...) O problema é que para os trabalhadores sem qualificação, é geralmente difícil encontrar um emprego, mesmo muito mal remunerado. (...) Ser estimulado a procurar trabalho significa quase sempre não encontrar.

- Trabalham a preços (se é possível dizer) de esmola, sem proteção social, em condições esquecidas. Verdadeiro maná para os grupos multinacionais. (...) A chantagem exercida sobre s políticas dos países desenvolvidos, a fim de que se alinhem por baixo, diminuam a fiscalização, reduzam as despesas públicas, as proteções sociais, regulamentem as desregulamentações e liberem o direito de demitir sem controle, eliminem o salário mínimo, flexibilizem o trabalho etc. etc. (...) É a miséria que se mundializa e se espalha para regiões até agora favorecidas. (...) Um novo modo de civilização já organizado, e cujas lógicas supõem a supressão do emprego, a extinção da vida assalariada, a marginalização da maioria dos humanos. E a partir dai...? (...) já faz muito tempo que estamos cegos até mesmo para sinais evidentes. (...) como se dará a sobrevivência dqueles que não trabalham, não podem mais trabalhar, e para os quais o trabalho seria a punica salvação? (...) os empregados só são remunerados quando trabalham. Eles só são empregados de vez em quando e, nos intervalos, devem esperar em casa, disponíveis e não remunerados, até serem chamados pelo empregador quando este julgar conveniente, pelo tempo que considerar desejável! O empregado deverá então apressar-se para retomar a tarefa por um tempo limitado. (...) Desintegram-se instituições, degradam-se conquistas sociais, sempre, porém, para preservá-las, para dar-lhes uma última oportunidade: “É para melhor te salvar, meu filho!”. 

Encerro com algo de minha lavra e responsabilidade: Daí para os “donos do poder” buscar uma forma rápida, limpa, eficaz, prática e eficiente de eliminar pessoas, diminuindo a massa humana será um pulo. No Brasil, com o fim do Auxílio Emergencial, espera-se o começo de uma convulsão para os próximos meses. Inevitável ou não, sem empregos, sem perspectivas, sem eira e nem beira, talvez reste como opção botar pra quebrar.

2 comentários:

Anônimo disse...

Caríssimo Amigo,

Essa sua postagem que respinga a versão derrotista e covarde de um "horror econômico" abstrato vencendo e nos derrotando definitivamente é inaceitável para nós que estamos aí, lutando, enfrentando, resistindo.

Por exemplo, no próximo dia 6 de março de 2021 o PCP - Partido Comunista Português - comemora 100 anos de luta!

É importante exercitar diariamente o nosso saber lutar, transformando os dados de realidade que despejam em nossas cabeças em dados de julgamento e crítica ao inimigo. Não, em dados de desbunde e "Desisto! Cansei!".

A nossa é uma luta muito longa e muito difícil.

Sun Tzu, que viveu nos anos 500 antes desta nossa era contemporânea, diz, em seu livro: "A Arte da Guerra":

"A habilidade em alcançar a vitória mudando-se e adaptando-se conforme o inimigo chama-se: genialidade".

Ou, não?

Abraço,
Jeferso, Garoeiro - Natal RN

Mafuá do HPA disse...

Seria ótimo se a resistência se desse por muitos, mas quando ocorre só entre uns poucos, difícil, mas eu, como sabes, não desisto nunca. Nem tu, enfim, continuaremos até quando puder na lida, luta e esgrimando contra estes todos.
HPA - mafuento e persistente