sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

COMENDO PELAS BEIRADAS (97)


CONTRAMÃO BAURUENSE: ESTARIAM PERDIDOS OU ENLOUQUECIDOS?
As notícias vindas das hostes do poder municipal não são nada alvissareiras, diria, seriam peripatéticas, confusas, desconexas e um tanto perigosas. Vou analisando conforme me veem na mente. 

Uma carreata em curso para amanhã, sábado, 16/01, iniciativa de um grupo intitulado "Pais pela Educação", propõe a imediata volta às aulas, justamente agora, quando o país está um verdadeiro caos e a pandemia assumindo níveis desesperadores. Pelo que vejo, esses pais não aguentam mais seus filhos em casa e fecham os olhos para a pandemia, colocando tudo em risco, fazendo o jogo do lobby dos proprietários de escolas privadas, todos clamando por dinheiro no bolso e lhufas para a vida humana. Definiram até data para o retorno das aulas nos colégios particulares, 25 de janeiro e a pressão é para que o ensino municipal faça o mesmo.

Dorotéia Vieira Alves Ferreira, diretora do DRS-6 - Divisão de Saúde Estadual declara em alto e bom som que "toda a rede hospitalar da região está colapsando, chegando quase ao seu limite de internados Covid e prestes a deixar de atender pacientes, principalmente os portadores de outras doenças". O alerta está dado, todos sabem da gravidade da situação, mas nem isso parece sensibilizar os ditos "forças vivas" da cidade, todos mobilizados na permanência da abertura geral, das academias de ginásticas, comércio, escolas a bares e restaurantes. O país numa guerra para ter sua vacina, tendo ontem um avião deslocado para a Índia e voltando vazio, sem estoque de vacinas, mas aqui, o vice-prefeito e secretário de Saúde, Orlando Costa Dias, já anunciando como expectativa do início da vacinação para 25/01, com horário de funcionamento e tudo, ou seja, Dia D e Hora H. Faltou ele especificar de onde viria a vacina, pois no restante do país tudo mais que indefinido, autoridades todas perdidas e dando chutes, bicudos ao leu. Ele sonha ou é vidente.

Prefeita participa de reunião virtual com o irresponsável ministro da Saúde, general (sic) Pazuello e se mantém de boca fechada, dizendo amém para tudo. Participar de reuniões com Pazuello, já foi demonstrado em vezes anteriores é simplesmente para fazer número, pois ele não permite apartes e muito menos perguntas impertinentes. Nenhuma viria da boca da alcaide bauruense, pois ela, bolsonarista de carteirinha, continua achando que a solução cairá do céu como um maná possibilitado pelos atuais mandatários nacionais. Nos decretos da prefeita, os de instância municipal, ela fecha a questão - ótimo - e fecha tudo, com muitos servidores sendo mantidos em casa e todos os cursos, aulas e afins suspensos, mas por outro lado, liberando a cidade inteira para que a iniciativa privada faça dela o que bem entender. Tudo aberto e à mercê da vontade dos verdadeiros mandatários desta cidade.

Prefeita anuncia que conseguiu mais oito leitos hospitalares para tratamento de Covid, em encontro com vice-governador e vereador anuncia fechamento de 20 a 30 leitos no HB - Hospital de Base. O motivo é o corte de orçamento e desta forma, o anúncio de que as vagas e o funcionamento do novíssimo hospital das Clínicas, junto ao Centrinho terá funcionamento até o final do ano, permanece como incógnita e expectativa de meia boca, ou como se diz nas esquinas, "conversa pra boi dormir". Um diz, outro desdiz, na mesma hora, uma confirmação, mas a realidade dos fatos a demonstrar outra coisa. Não vejo isso como falta de conexão, nada disso, vejo como a própria perdição, ou seja, todos estão mais perdidos que "cegos em tiroteio" e a população no meio do "fogo cruzado".

Ainda da série de desencontros, nota, avisos, decisões e depois, revisão de rota, primeiro o bombástico anúncio de que o Estado estaria encerrando a radioterapia na cidade, mas agora, dias após, a notícia da manutenção do serviço, tudo garantido por um secretário estadual, gente do próprio governador Dória. Aqui, como se sabe, as decisões são tomadas, a princípio irreversíveis, mas depois, questão de meros dias, tudo volta atrás, numa clara demonstração de desorganização absoluta, tudo feito nas coxas, visando somente os cofres, nunca o ser humano. Bolsonaro é useiro e vezeiro em atitudes dessa natureza, para depois, quando tudo já acalmado, daí volta à carga e coloca em prática a maldade que tinha em mente.

Enquanto isso, Walace Sampaio, um dos mandatários de fato da cidade, em artigo hoje no JC profetiza de forma irônica - não encontro outra forma para compreensão do que escreve - que, "Bauru no caminho certo". Ele enfatiza que a prefeita grita, esperneia, pede, clama, assina papéis, faz o que tem que ser feito e mesmo com a pandemia no descontrole, continua sendo sensata e mantém tudo aberto, à espera do que virá de outras instâncias, no caso a estadual e a federal. Ele, como já de outras vezes, deixa claro que apoia a prefeita, desde que ela continue fazendo o que ele diz ser o correto. "O comércio dará sua colaboração (...), porém, não aceitará mais as atitudes despóticas do governo do Estado, a exemplo do absurdo fechamento do comércio...". Será que ele saca o que venha a ser um ato despótico? Ele e outros próceres "donos do poder" local, incitaram tanto a população, que essa hoje, se finge de morta e a cidade funciona como se nada houvesse. Muita ousadia alguém querer fechar algo ou propor algo assim, pois será no mínimo linchado em praça pública.

Entre encontros e desencontros, a cidade, quiçá o estado e o país seguem seu destino insólito e destrutivo, guiado pelos preceitos das leis de mercado, menosprezando o ser humano, enlouquecidos e ainda não sacando que, logo ali, na virada da curva da esquina, talvez amanhã ou no máximo depois, o caos estará chegando e se instalando junto a nós. O prenúncio do que aconteceu em Manaus, pelo visto, não assusta a estes, enfim, eles todos fazem tudo dentro das normas, direitinho, seguindo todos os padrões de segurança e como Walace sempre alerta, "colaborando sempre". Já que agem assim, são os tais com a caneta nas mãos, a resposta será dada a estes daqui alguns dias (toc toc toc) e na esperança (toc toc toc) de dias não tão nebulosos.
OBS.: Este HPA não é agourento, mas as evidências são quase irremediáveis na constatação de que algo fora desse script ainda pode nos acontecer e não se faz necessário ser bidu ou ter bola de cristal nessas previsões.

O CIRCO CHEGOU, JUSTO AGORA, PANDEMIA E CHUVAS INTENSAS
Eu vivencio isso com extrema dor interna. Vivi boa parte de minha vida, dos 7 em diante, morando nas barrancas do rio Bauru e entre tantas enchentes, já vi também todo tipo de circo ali se instalando, onde hoje está fincada a avenida Nuno de Assis, esquina da Inconfidência com Gustavo Maciel. Foram tantos circos e parques, histórias inenarráveis e dessas a me fazer ficar mais que ruborizado por tudo o que já fiz para estar num espetáculo circense. Lembranças dos circos teatros, quando emprestavam da casa dos vizinhos móveis para compor o cenário, trocados por ingressos. E de uma vez que, uma linda artista foi tomar banho em casa, eu escondido dentro de um cesto de roupa suja, só para vê-la nua e quando descoberto, uma coça. Infinidade de artistas e o famoso Vitinho Parque, que vi crescer ano após ano e se transformar num grande parque. Tantas histórias e um amor desmedido por todos "ciganos" e "mambembes" deste mundo.

Coisa de uma semana e pouco atrás algo me aterrorizou, quando vi estacionar no campo ali defronte onde está o mafuá, um ônibus e um pequeno trailer, mas dois carros. Um circo chegava e da alegria que sempre senti com a chegada deles, me deu um rubor interno, uma comiseração, pois em primeiro lugar, estamos no meio da parte mais danosa dessa pandemia mundial e depois, por também estarmos na única época do ano onde todos os ribeirinhos se amedrontam, o período das chuvas, que vai de dezembro até o começo de março. Enchente por ali nessa época do ano é algo trivial. Eles descobrem o mafuá e me pedem água e luz por alguns dias. Cedo, estacionam o ônibus bem na frente do portão e ligam uma extensão.

Converso com todos e mostro a marca das água na parede ainda não pintada no mafuá. Um metro e meio na enchente de dois anos atrás. Na do ano passado, foi pouco, só no quintal e uns dedos de água dentro de casa, mas no campo, onde se alojam, o estrago é sempre maior, muita enxurrada. Eles se mostram apavorados e me dizem que, estiveram no Boulevard, mas o espaço não era suficiente, além de caro. Estiveram também nas proximidades do Bauru Shopping e o preço não era convidativo para os bicudos tempos. Optaram por este, quando indicados por não sei quem e lá estavam, chegando aos poucos, com estes poucos vindo na frente para fazer a divulgação via rádios e afins.

O que dizer mais? Ouvi, isso sim. A história do que passaram nesse período de pandemia é das mais tristes. Estavam em Marília e numa outra cidade perto. Ali permaneceram, a grana acabou, as cidades se mobilizaram para ajudá-los, campanhas foram feitas, viveram de doações e os artistas descobriram coisas para vender de casa em casa, tudo para continuarem comendo, uma vez que salário, nem pensar. A pandemia deu uma amenizada, os lugares foram se abrindo e eles junto, com a esperança de reconquistar o espaço dedicado as artes e espetáculos neste mundo. Surgiu a possibilidade de virem para Bauru, uniram forças e cá estão, chegando aos poucos. Nessa quinta e sexta chega o grosso do circo, sendo transportando em poucas carretas, muitas idas e vindas.

O pessoal de circo tem todo tipo de história para te contar, desde as mais alegres, como as mais tristes. Eu já ouvi muitas delas e dessa vez, só consegui lhes desejar boa sorte, pois a chuva é mesmo cruel quando cai desmedidamente e da pandemia, todos sabemos onde nosso calo aperta. Se nessa cidade tudo que é estabelecimento privado está sendo incentivado a se manter aberto, por que o circo não poderia trabalhar? Seguindo essa premissa pode, mas isso é coisa mais que discutível, feito com as autoridades locais, as que lhes concedem licença de funcionamento, não comigo, um amante da arte, vizinho deles e observador das agruras desse povo brasileiro, que tudo enfrenta para tentar se safar das adversidades e conquistar bocadinho de luz própria.

Enfim, o circo está se instalando e já vejo reclamações pipocarem no ar, do tipo, "mas como pode?", "que bagunça é essa?" ou "só louco mesmo para ir agora no circo". Não entro nessa, pois sei da necessidade destes e de como cavam suas vidas, uma desmedida luta, contínua, incessante e audaz. Circo é vida, mas o momento é pérfido. Se o comércio central diz pela boca do presidente do SinComércio que "não fecha mais suas portas", tudo o mais está aberto, ou seja, a putaria está institucionalizada e oficializada na cidade, o circo também é merecedor de seu espaço.

São tantas coisas que nem sei como escrevê-las num momento como este. Ligo a TV, vejo cenas de enchentes em várias cidades da região e a pandemia num crescendo assustador, essa mudança de fases, cidades já se fechando em copas e eles, o pessoal do circo, levantando a tenda cheios de esperança, sem querer conversar muito sobre o assunto, pois por tudo o que já passaram, só querem poder trabalhar e também pagar suas contas. Escrevo deles nesse momento movido pela mais sincera e pura emoção, de alguém que ama a atividade circense na sua essência e se pudesse, ainda mais nesse momento quando o país está todo despirocado, cabeças todas ao léu, avoadas e fora do eixo, sairia pelo mundo, de cidade em cidade junto deles, sem me preocupar com nada mais. Ah, como seria bom se os do circo não sofressem tudo o que sofremos! Sofrem até mais e só quem vivem neles sabe dizer algo sobre isso. Só aceito pegarem no pé do circo se tudo o mais também for devidamente enquadrado, do contrário, deixem eles em paz, pois já estamos mesmo vivenciando no reino do desvario total e absoluto, sendo Bauru um dos epicentros da esbórnia.

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