* Texto também utilizado contra golpistas de plantão e os 60 anos do insano Golpe de 64, lembrado entre hoje, 31/03 e amanhã, 01/04, Dia da Mentira.
BRASIL, DUAS LEITURAS DE UMA DATA MENTIROSA, POR ERIC NEPOMUCEMO*Sim, pode a turba insensata apregoar que tudo já faz parte do passado, enfim, já se passaram quase uma semana do ocorrido e como tudo nestas plagas, alguns dias depois, nada mais é lembrado e o jogo tem prosseguimento, como se quase nada tivesse ocorrido. Guardião não esquece e nesta sua passagem mensal por aqui, faz questão de deixar registrado em alto e bom som, a bazófia ocorrida na Câmara de Vereadores de Bauru, quando o trio a compor a Mesa Diretora da Casa, em desalinho, ou melhor, sem comunicar os demais, alteram a forma de voto e facilitam a vida da alcaide municipal Suéllem Rosim, com sua intenção de privatizar a água e o esgoto municipal a toque de caixa, numa Carta Branca para ser, fazer e acontecer com o dinheiro público. Se tudo já caiu no esquecimento, o trio não foi sumariamente deposto, pouco ainda se fala do assunto, Guardião volta à carga e faz alusão com famoso romance popular.
"Todos conhecem a saga dos Três Mosqueteiros, quando no reinado de um déspota rei francês, investiam contra seu poder e contra também a impidedosa ação de um cardeal, investido do poder real e cravando a espada nos costados do povo. Não existe quem não tenha torcido a favor destes três. Relembro deles neste momento, pois o ocorrido com a quase destituição da Mesa Diretora da Câmara dos Vereadores de Bauru (Junior Rodrigues, Marcos de Souza e Milton Sardim), me fez lembrar do romance de Alexandre Dumas, porém, ao contrário. Lá na Paris de séculos passados, o povo também revoltado contra a desfaçatez de injustiças sendo cometidas se une aos bravos a guerrear contra o poder constituído e aqui, na insólita Bauru, três nada destemidos vereadores, na calada da noite, promovem sem a anuência dos demais - total de 17 -, alteração de legislação vigente, tudo para facilitar a vida do rei Luís XIII, ops, digo, da alcaide municipal. é aquilo da história sempre estar se repetindo, porém, agora como farsa", relembra o intrépido capa e espada bauruense.
O momento, como se sabe, não é para ir, sendo muito mais para lamentações, pois a tal da Mesa Diretora conseguiu se segurar pelo vão dos dedos, com o presidente da Casa, consequentemente da Mesa Diretora, votando, desempatando a contenda e desta forma, sem destituição à vista, continuando nas aprontações de praxe. "Os fatos em Bauru se repetem constantemente. Quem não se lembra da história da alteração do relógio, também numa sessão da Câmara, quando as horas são alteradas, uma votação ocorre, o destino da então província é mudado e quando os demais vereadores comparecem para a sessão, no horário aprazado, tudo já está devidamente consumado e sem possibilidade de alteração. Essa história daria um belo romance, tão ou mais significativo do que a saga descrita dos Três Mosqueteiros. Importante o ocorrido semana passada não cair no esquecimento, pois representa de forma bem significativa algo mais das ocorrências, ditas como normais, respaldadas por uma legislação lida e entendida pelo avesso. Tudo é feito assim às claras, sem que faces fiquem ruborizadas, ou seja, vivenciamos período onde a normalidade política assim se apresenta e é imposta. Isso faz parte do tal jogo democrático, onde sempre e sempre, o voto decide, mas por detrás dele, o algo mais para se chegar até o momento dele ser cravado. Entender o que se passou nos bastidores de toda a trama se faz necessário, pois a vida real não é um romance como o de Dumas, mas algo concreto, imposto neste momento pela administração da denominada incomPrefeita Suéllem Rosim. A maioria venceu e desta forma o jogo prossegue, porém, não sem antes, ser inscrito em mais este triste capítulo da história política bauruense, algo surreal, resvalando em épico romance", conclui Guardião.
Na próxima sessão, talvez o fato nem seja mais lembrado, porém, Guardião faz questão de inscrever o mesmo nos lamentáveis dentro da vida parlamentar da terra do sanduíche. Sem mais palavras, este escriba mafuento dá por encerrada a escrevinhação deste dia, pois acredita, tudo ter sido entendido nos seus mínimo detalhes. E tenho dito.
* Este Eric, jornalista de uma cepa quase não mais existente é deste que, republico tudo quase sem ler. São das poucas pessoas pelas quais ainda confio quase cegamente. É sempre bom, salutar a existência de pessoas assim pelas quais ainda podemos confiar. Este seu artigo para edição de hoje, 31/3, para ´diário argentino Página 12. Imperdível:
31 de março de 2024 marca o 60º aniversário da Revolução Democrática ou “Redentora” que liquidou o governo do presidente João Goulart e eliminou o risco de o Brasil se tornar um país comunista. O dia 31 de março de 2024 marca os 60 anos do golpe civil-militar que derrubou Goulart e instaurou uma ditadura que, além de entregar o país a interesses privados e famintos, cobriu o horizonte de sombras durante 21 anos com marés de censura. torturas, desaparecimentos e assassinatos que permanecem impunes. A primeira leitura prevalece, de forma não tão discreta, entre os militares da ativa. Mas ainda assim, não há comemorações ou barulhos no quartel. Entre os aposentados será um dia de festas barulhentas em todo o Brasil, com louvor ao passado glorioso e fúria ao presente cada vez mais desastroso. Também prevalece nos setores mais reacionários do país. A segunda leitura, entre as tramas minimamente lúcidas dos brasileiros. Para a extrema direita, concentrada em torno do desequilibrado Jair Bolsonaro e sua gangue familiar, será um dia para lembrar que ainda estão prontos para liquidar o comunismo instalado em nossas pobres almas.
São leituras que partem de um erro. O que aconteceu naquela terça-feira, 31 de março, foi a desastrosa iniciativa do General Olímpio Mourão Filho, de se antecipar ao que seus colegas tramavam. Ele comandou uma tropa em Juiz de Fora, pequena cidade do sul de Minas Gerais, a cerca de 185 quilômetros do Rio de Janeiro. Ele era conhecido principalmente por seu hábito de tirar uma soneca vestindo um pijama vermelho brilhante. Sua intenção era ocupar a cidade do Rio onde Goulart estava com suas tropas atrofiadas, prendê-lo e tomar o poder com seus pares. No dia seguinte, 1º de abril, Goulart ainda estava no Rio e tentou reverter a situação. Procurou generais com tropas reais e não o batalhão do golpista, tentando contar com sua lealdade. Foi em vão: o golpe já estava em curso. Em seguida, voou do Rio para Brasília, onde também não conseguiu nada. E finalmente rumo a Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, sua província natal, onde percebeu a imensa disparidade de forças. Ele desistiu. Refugiou-se no Uruguai e nunca mais conseguiu voltar. Ele morreu jovem e no exílio em dezembro de 1976, aos 57 anos. O Brasil mergulhou em uma ditadura cruel. Menos sanguinários, aliás, que os do Uruguai, do Chile e principalmente da Argentina. Mas o mais duradouro: 21 anos de violência, usurpação e sombra.
Só houve eleições presidenciais em 1989, após 28 anos. O vencedor, Fernando Collor de Mello, não teve carreira política significativa e revelou-se corrupto com irresponsabilidade ilimitada. A maldita herança desses 21 anos de ditadura pode ser revelada sob mil abordagens, todas corretas. Um, porém, sempre me pareceu o mais tremendo, o mais abjeto e o mais perverso: o modo como a memória brasileira foi literalmente derrubada. A minha geração e as duas que vieram depois – eu nasci em 1948 – guardaram uma boa carga de lembranças e registros. Aqueles que vieram depois foram criados sob as forças do esquecimento e da negação. O Brasil se tornou um país amnésico. Perversamente amnésico.
Outro feito da ditadura foi liquidar a educação, tanto pública como privada, em todos os níveis. Entre estes dois feitos, o regime e os seus cúmplices civis deixaram um país de ignorância olímpica e - vale a pena reiterar - de amnésia sem limites. Hoje, 31 de março, completam-se 60 anos do fim da democracia, um período que duraria longos e infinitos 21 anos. Sim, sim: no quartel, militares da ativa celebrarão discretamente a data. Os já aposentados, com imensa euforia. E Bolsonaro, as crianças e sua turma, com a esperança de poder voltar a esses anos de glória. Para surpresa geral, o governo Lula não fará qualquer menção à data. Diz-se que foi um acordo com os militares: eles não se manifestam, nós também não. Além da profunda decepção da maioria dos brasileiros, a atitude de Lula serviu para espalhar ondas de irritação entre seus seguidores.
Ambos os lados – os que comemoram e os que denunciam a data – estão errados. Naquele 31 de março, o que aconteceu foi uma bobagem. Mourão Filho nunca foi além do grotesco. A verdade é que as tropas assumiram o poder em 1º de abril de 1964, levando ao poder a Revolução Libertadora (ou Redentora). E quase houve coerência na data: se no mundo hispânico 28 de dezembro é o dia dos Santos Inocentes, somos mais diretos: 1º de abril é o Dia das Mentiras. Portanto, nada aconteceu no 31 de Março, nem Libertador, nem Redentor, muito menos Revolução. O que aconteceu no dia seguinte, 1º de abril, foi, claro, uma realidade incoerente: não é mentira, mas um golpe de Estado. Miserável, abjeto, perverso. E sinceramente.
31 de março de 2024 marca o 60º aniversário da Revolução Democrática ou “Redentora” que liquidou o governo do presidente João Goulart e eliminou o risco de o Brasil se tornar um país comunista. O dia 31 de março de 2024 marca os 60 anos do golpe civil-militar que derrubou Goulart e instaurou uma ditadura que, além de entregar o país a interesses privados e famintos, cobriu o horizonte de sombras durante 21 anos com marés de censura. torturas, desaparecimentos e assassinatos que permanecem impunes. A primeira leitura prevalece, de forma não tão discreta, entre os militares da ativa. Mas ainda assim, não há comemorações ou barulhos no quartel. Entre os aposentados será um dia de festas barulhentas em todo o Brasil, com louvor ao passado glorioso e fúria ao presente cada vez mais desastroso. Também prevalece nos setores mais reacionários do país. A segunda leitura, entre as tramas minimamente lúcidas dos brasileiros. Para a extrema direita, concentrada em torno do desequilibrado Jair Bolsonaro e sua gangue familiar, será um dia para lembrar que ainda estão prontos para liquidar o comunismo instalado em nossas pobres almas.
São leituras que partem de um erro. O que aconteceu naquela terça-feira, 31 de março, foi a desastrosa iniciativa do General Olímpio Mourão Filho, de se antecipar ao que seus colegas tramavam. Ele comandou uma tropa em Juiz de Fora, pequena cidade do sul de Minas Gerais, a cerca de 185 quilômetros do Rio de Janeiro. Ele era conhecido principalmente por seu hábito de tirar uma soneca vestindo um pijama vermelho brilhante. Sua intenção era ocupar a cidade do Rio onde Goulart estava com suas tropas atrofiadas, prendê-lo e tomar o poder com seus pares. No dia seguinte, 1º de abril, Goulart ainda estava no Rio e tentou reverter a situação. Procurou generais com tropas reais e não o batalhão do golpista, tentando contar com sua lealdade. Foi em vão: o golpe já estava em curso. Em seguida, voou do Rio para Brasília, onde também não conseguiu nada. E finalmente rumo a Porto Alegre, capital do Rio Grande do Sul, sua província natal, onde percebeu a imensa disparidade de forças. Ele desistiu. Refugiou-se no Uruguai e nunca mais conseguiu voltar. Ele morreu jovem e no exílio em dezembro de 1976, aos 57 anos. O Brasil mergulhou em uma ditadura cruel. Menos sanguinários, aliás, que os do Uruguai, do Chile e principalmente da Argentina. Mas o mais duradouro: 21 anos de violência, usurpação e sombra.
Só houve eleições presidenciais em 1989, após 28 anos. O vencedor, Fernando Collor de Mello, não teve carreira política significativa e revelou-se corrupto com irresponsabilidade ilimitada. A maldita herança desses 21 anos de ditadura pode ser revelada sob mil abordagens, todas corretas. Um, porém, sempre me pareceu o mais tremendo, o mais abjeto e o mais perverso: o modo como a memória brasileira foi literalmente derrubada. A minha geração e as duas que vieram depois – eu nasci em 1948 – guardaram uma boa carga de lembranças e registros. Aqueles que vieram depois foram criados sob as forças do esquecimento e da negação. O Brasil se tornou um país amnésico. Perversamente amnésico.
Outro feito da ditadura foi liquidar a educação, tanto pública como privada, em todos os níveis. Entre estes dois feitos, o regime e os seus cúmplices civis deixaram um país de ignorância olímpica e - vale a pena reiterar - de amnésia sem limites. Hoje, 31 de março, completam-se 60 anos do fim da democracia, um período que duraria longos e infinitos 21 anos. Sim, sim: no quartel, militares da ativa celebrarão discretamente a data. Os já aposentados, com imensa euforia. E Bolsonaro, as crianças e sua turma, com a esperança de poder voltar a esses anos de glória. Para surpresa geral, o governo Lula não fará qualquer menção à data. Diz-se que foi um acordo com os militares: eles não se manifestam, nós também não. Além da profunda decepção da maioria dos brasileiros, a atitude de Lula serviu para espalhar ondas de irritação entre seus seguidores.
Ambos os lados – os que comemoram e os que denunciam a data – estão errados. Naquele 31 de março, o que aconteceu foi uma bobagem. Mourão Filho nunca foi além do grotesco. A verdade é que as tropas assumiram o poder em 1º de abril de 1964, levando ao poder a Revolução Libertadora (ou Redentora). E quase houve coerência na data: se no mundo hispânico 28 de dezembro é o dia dos Santos Inocentes, somos mais diretos: 1º de abril é o Dia das Mentiras. Portanto, nada aconteceu no 31 de Março, nem Libertador, nem Redentor, muito menos Revolução. O que aconteceu no dia seguinte, 1º de abril, foi, claro, uma realidade incoerente: não é mentira, mas um golpe de Estado. Miserável, abjeto, perverso. E sinceramente.