quarta-feira, 27 de março de 2024

FRASES DE LIVRO LIDO (199)


A DIREITA ODEIA A CULTURA
Estou neste momento sentado na sala de espera de consultório médico. Enquanto aguardo ser atendido, a cabeça fervilha a deglutir, digerir e por pra fora, fazer ganhar o mundo, o que acabo de ouvir, pelas ondas do rádio, através da voz de Vitor Hugo Morales, no seu matinal programa, ouvido por mim quase todos os dias pela argentina 750AM: "A direita odeia a Cultura". Foram dez minutos de algo dito, em alto e bom som, algo do qual sempre soube a agora, repito com minhas próprias palavras, misturando o que ouço, com o que já rumina minha cachola faz tempo.

É simples. Pura constatação. A direita abomina as formas expressivas de Cultura, pelo simples fato dela ser contestadora. Ao contestar, evidentemente estará se posicionando contrária a quem pratica o poder em benefício próprio e o individualismo, ao invés da luta coletiva. A Cultura é a exposição de ideias e sua simples propagação é um protesto. Quem pensa reage, não fica quieto, não é indiferente, enxerga além e ao se manifestar, quer queiram ou não, já estão tomando partido. Cultura indiferente não é Cultura. E ao se posicionar, impossível essa estar prestando reverência a quem produz ou faz barbaridades. Inevitável um choque. Antagônicos por natureza. Quando diante de algo cultural muito próximo do seu algoz, paparicação do poder, pode crer, estão aí de cabeça baixa, aceitando as regras e se sugeitando as piores condições, sempre impostas, nunca negociadas. Não existe acordo para quem não gosta e abomina a Cultura. Estes fazem algo, mas por pura pressão ou por saber que, no exercício do cargo do qual estão investido, algo precisará ser feito. Mas se, fosse pela cabeça destes, virariam definitivamente as costas para quem produz Cultura e, desta forma, produz algo com a intenção de instruir, abrir os olhos de quem esteja do outro lado. Assim sendo, os fazedores de Cultura são todos "gente perigosa", da pior espécie, pois estarão constantemente conspirando, produzindo algo contrário a todos os interesses reunidos no que se denomina como Direita.

A Cultura peleia contra o poder opressor. Assim a vejo e não consigo enxergá-la de outra maneira. Não pode haver quem dentro do meio cultural defenda o poder maléfico a destruir tudo. Os negacionistas perdem prazos, dizem tudo estar sendo feito, porém quase nada acontece. Hoje na Argentina, ao invés de fazer algo pela Cultura, Javier Milei quer mudar o nome do maior centro cultural do país, tudo porque leva o nome de algo no oposto de tudo o que faz, Nestor Kirchner. Aqui em Bauru, a alcaide municipal Suéllen Rosim, com dinheiro em caixa desde julho de 2023, até agora não fez nada para aprovar a Lei Paulo Gustavo, direcionando quase 3 milhões de reais para agentes culturais da cidade. Estes dois, Milei e Rosim, representam algo dentro de tudo isso que escrevo. Não dá para crer em alguém em plena consciência, artista na acepção da palavra, continuar ao lado de quem lhes crava, a todo instante, a espada nas costas.
Claro, a Cultura e seus agentes estarão sempre se ocupando de lutar por um mundo melhor e não pelo contrário. Impossível dizer que quem foi contra vacinas, apoiou o genocídio, tem ideias de que o milicianismo é melhor com sua Justiça própria e depois de tudo o que já tomamos conhecimento dos malefícios dessa política federal dos tempos de seu Jair, o ultra-direitista, ainda continuam ao seu lado ou minimamente o apoiando. Não tivemos Cultura nos tempos do seu Jair, tudo foi aniquilado. E seus seguidores agem da mesma forma e jeito. Uns mais rápidos que os outros, mas todos perversos, pois algo em comum os une, o ódio pela Cultura. Abomináveis os agentes culturais se posicionando ao lado de políticos predadores de tudo o que fazem. Agem contra o próprio patrimônio. Em Bauru muitos destes, assim como nacionalmente. Ainda bem, a maioria além de saber muito bem o que acontece, repudia o jeito estapafúrdio e retrógrado de administração propagada por gente com ligação umbilical com a Direita.

Isso tudo foi um desabafo, escrito partes na sala de espera de consultório médico e finalizado após o almoço, antes de dar início ao "segundo tempo" do dia. Este assunto renderia um escrito muito mais longo, porém, paro por aqui e se algo mais for acontecendo, irei, com certeza, colocando mais lenha nessa fogueira. Reafirmo ao final, A DIREITA ODEIA A CULTURA e faz de tudo - e mais um pouco - para que nada ocorra para quem age epensa exatamente o contrário de suas ações e prática.


RELATOS DE QUEM CONVIVEU ENTRE OS MISERÁVEIS DE DUAS METRÓPOLES
Para quem, como eu, escreve muito sobre os miseráveis deste mundo, de suas dificuldades e tenta ao menos ir além da escrita, eis que me cai às mãos um livro, comprado na Banca do Carioca, Feira do Rolo, “NA PIOR EM PARIS E LONDRES”, George Orwell (Editora Príncipis/Selo Ciranda Cultural, 2021, 224 páginas). Orwell não só escreve sobre o trabalho destes junto a serviços e moradias coletivas, miséria, fome e o mundo dos moradores em situação de rua, mas algo vivenciado pessoalmente por ele mesmo nos idos da escrita do livro, 1933.

Para entender algo dessa triste realidade, ainda bem presente, nada como ler algumas das frases aqui separadas por mim, com algo mais do que doído, mas sentido nas mais profundas entranhas do ser humano e de suas dificuldades de sobrevivência:

- Os cortiços de Paris eram local de reunião de pessoas excêntricas, gente que havia caído nas valas solitárias e meio loucas da vida e desistido de tentar ser normal ou decente. A pobreza as liberta dos padrões comuns de comportamento, como o dinheiro liberta as pessoas do trabalho. Alguns hóspedes de nosso hotel tinham vidas que palavras não podiam descrever.

- É a peculiar baixeza da pobreza que você descobre primeiro; as mudanças que promove em você, a mesquinharia complicada, a economia de migalhas. (...) ...mal alimentado, não consegue se interessar por nada. (...) Só comida é capaz de animá-lo. Você descobre que um homem que passou uma semana a pão e margarina não é mais um homem, é só uma barriga com alguns órgãos acessórios. (...) Descobri a grande característica redentora da pobreza: ela aniquila o futuro.

- A inércia completa é minha principal lembrança da fome. (...) Parecer faminto é fatal. Faz as pessoas quererem chutar você. (...) Um homem faz qualquer coisa quando está com fome. (...) Você já reparou no sabor que tem o pão quando se está com fome há muito tempo? (...) Para muitos homens do bairro, homens solteiros e sem um futuro em que pensar, a bebedeira semanal era a única coisa que fazia a vida valer a pena.

- ...as vezes torcia um pano de prato sujo na sopa de um cliente antes de leva-la, só pra se vingar de um membro da burguesia. (...) ...simplesmente foram aprisionados por uma rotina que torna impossível pensar. Mas eles não pensam, porque não têm tempo livre para isso; a vida que levam fez deles escravos. (...) Sem dúvida, hotéis e restaurantes precisam existir, mas não há necessidade de escravizar centenas de pessoas. (...) ...é mais seguro mantê-los ocupados demais para pensar. (...) ...qualquer liberdade concedida aos pobres é uma ameaça à sua própria liberdade. (...) ...o homem culto prefere manter as coisas como estão.

- Tudo esplêndido, se puder pagar por isso. (...) As roupas de um mendigo são ruins, mas escondem coisas muito piores; para enxerga-lo como realmente é, sem disfarces, é preciso vê-lo nu. Pés chatos, barriga inchada, tórax oco, músculos flácidos – todo tipo de podridão física está lá. (...) Você nunca vai conseguir tirar nada de um rico. É dos miseráveis que se tira mais proveito, e dos estrangeiros. (...) ...se olharmos com atenção, veremos que não há diferença essencial entre o jeito de ganhar a vida de um mendigo e de inúmeras pessoas respeitáveis. (...) Um mendigo, examinado com realismo, é simplesmente um homem de negócios, ganhando a vida, como qualquer outro homem de negócios, da maneira que pode. Ele não vendeu sua honra, não mais do que a maioria das pessoas modernas; simplesmente cometeu um erro de escolher um ramos no qual é impossível ficar rico.

- As pessoas se enganam quando pensam que um homem desempregado só se preocupa com a perda do salário; pelo contrário, um homem analfabeto, que tem o hábito do trabalho profundamente arraigado, precisa de trabalho ainda mais que o dinheiro. (...) É curioso como as pessoas acham que têm o direito de pregar e orar por você assim que sua renda cai abaixo de um determinado nível. (...) É curioso, mas poucas pessoas sabem o que leva um mendigo para as ruas. (...) O mal da pobreza não é tanto fazer o homem sofrer, mas degradá-lo espiritual e fisicamente. (...) O outro grande mal da vida de um mendigo é o ócio forçado. (...) ... sinto que não vi mais do que franjas da pobreza.

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